quarta-feira, agosto 31, 2005

 

Barba, cabelo sem bigode


Amish
Posted by Picasa

 

Amish: a façanha de parar o tempo nos EUA

A casa de madeira branca, típica de fazenda, não tem ornamentos. Do lado de fora, as roupas simples da família secam ao sol em um extenso varal,incomum na área rural de Wisconsin, meio-oeste dos Estados Unidos. Os lampiões de querosene que iluminam a casa 'a noite estão apagados. No celeiro, dois rapazes vestidos com calças jeans feitas em casa, camisa presa por botões, alfinetes e suspensórios - conversam em dialeto alemão enquanto executam tarefas. Um deles usa chapéu e barba estilo Abrahão Lincoln, sem bigode. Fuma cigarro marrom. A cena parece de um filme da época. Dennis Miller, 19 anos, tem oito irmãos, casou-se há um ano e ganhou odireito de cultivar a barba, que manterá até o fim da vida. O cunhado imberbe, Henry Mast, 11o de 12 filhos, torce para seu aniversário, ano que vem, chegar logo; aos 16, vai poder namorar. Está curtindo a nova carruagem preta, rodas de ferro e estofamento azul, igual a de todosna comunidade, composta por 60 famílias Amish da região. Estamos no século 19. Estamos no século 21. Dennis e Henry são "modernos" representantes dos Amish, religião fundamentalista cristã do século 17 na Europa, que faz o tempo parar, mesmo nos Estados Unidos. Diferente da maioria, o bispo da comunidade permite que a fazenda do pai de Henry tenha telefone numa das garagens, fora da casa, e até tratores, raridades entre os fiéis naárea.Os Amish rejeitam a modernidade e a integração com a população local, que chamam de "os ingleses". Não podem dirigir carros ou tratores -aceitam carona -, ver televisão nem tirar fotos. "Se ninguém vir, não me importo", disse Dennis, minutos depois de negar permissão para umafotografia, mesmo sem saber por que não deve aparecer em fotos. "Não sei por quê, mas não devo". Os Amish cumprem as regras. As mulheres seocupam de tarefas domésticas, vestem vestidos de mangas compridas, aventais e têm a cabeça coberta por uma touca (branca, se for casada, preta, se solteira); os homens são habilidosos carpinteiros.
As crianças só estudam até a 7a série, em casas de um cômodo, que servem de escolas para a comunidade, fora do sistema público americano. A partir de então, passam a trabalhar integralmente com a família, na fazenda ou com carpintaria. Ano passado, a idéia de integrar crianças Amish a outros americanos em escolas em Augusta - a3 0 km dali - não prosperou, pela resistência de líderes locais.O rigor com que seguem os princípios religiosos dá a entender que ascomunidades vivem na igreja, mas na verdade os cultos são celebrados só uma vez a cada dois domingos, nas casas dos membros das comunidades, e não há um templo específico. Nesse dia, não trabalham evestem-se com roupas especiais: paletó, calças e chapéu pretos ecamisa branca. "A gente também lê a Bíblia durante a semana, 'asvezes", diz.
Como lazer, Dennis anda a cavalo, pesca, caça e joga vôlei. Uma luvade beisebol estava jogada no porta-mala de sua carruagem. "Eu sou só Amish, é o que sei".
(Matéria publicada no DIA em 17 de setembro, domingo)

 

2. Amor aos 16, casamento aos 18 (Os Amish, again)

É difícil encontrar um Amish solteiro com mais de 20 anos. Os jovens casam-se aos 18 ou 19 anos, pouco tempo depois de ter permissão paranamorar, aos 16. Nos Estados Unidos, 18 é a idade mínima para casar sem a permissão dos pais, e os Amish já se adaptaram a mais estaregra. Normalmente, os casais se conhecem na igreja e na vizinhança.Os casamentos só devem acontecer entre membros da comunidade.Sem contraceptivos, as famílias Amish são numerosas. Não é raro vermais de dez filhos em uma casa. Pé no chão, roupa simples e reservadamesmo para as crianças, que são tímidas e desconfiadas. "Papai não está em casa. Foi pescar. Não sei onde. Não sei que horas volta",disse a menina de aparentemente 12 anos que atendeu o repórter navaranda da casa, ladeada por duas irmãzinhas. O pai, Abush, é um ancião e tinha concordado em falar comigo, mas aparentemente mudou de idéia na última hora. Os Amish não gostam muito de mídia.
Henry Mast, 15 anos, ainda não sabe quem vai namorar. "Quando fizer 16 anos, vai ter idade para ir atrás de meninas", disse Dennis, o cunhado. "Vou poder, se elas não correrem", brincou Henry. A vida entre os Amish não é tranquila para todos. As restrições impostas e as tentações do moderno mundo exterior, logo ali do lado,balançam a cabeça de muitos jovens. É comum haver deserções de jovens,que resolver, mesmo contra muita pressão da comunidade e de seuslíderes, abandonar o grupo e tentar a vida só. A falta de laços comoutras pessoas e grupos torna a tarefa mais difícil. Uma vez fora dacomunidade, porém, a pessoa é isolada."Eles têm o direito de ir embora, para os 'ingleses". Mas aí não são mais Amish", resume Dennis. "Tem uns quatro por aqui, atrás daquele morro. A gente pode até falar com eles, mas não pode visitar e baterpapo".Ele só dirigiu uma vez, escondido. "Eles são diferentes, mas tão logo entram no carro com a gente para ir pescar ou caçar, jogam o chapéu para lá e relaxam", diz FFFFF, cujo filho trabalha para um grupoAmish, como motorista e ajudando em outras coisas que eles não podemfazer por causa da religião. Também são bons empregados, diz FFFFF. "São honestos, não bebem nem causam problemas".
OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE OS AMISH
Filme: "A Testemunha", com Harrison Ford, 1985
População estimada nos EUA: 180 milLugares onde vivem nos EUA: 22 dos 50 estados. Ohio (45 mil),Illinois, Pennsylvannia, Indiana, Nova Iorque, Kentucky, Tenessee,Minnesota, Wisconsin, entre outrosTipo de religião: Fundamentalista Cristã, protestanteDoutrinas semelhantes: Anabatista, Menonita
Criador: Jacob Amman (1644-1720), suíço
Doutrinas semelhantes: Anabatista, MenonitaCriador: Jacob Amman (1644-1720), suíço

segunda-feira, agosto 29, 2005

 

Até aqui, a América é só azul: esperemos a Geórgia

Ontem fomos a um rio onde fizemos um passeio de bóia - câmara de pneu de caminhão, né?, e à noite joguei boliche. Sábado saímos à noite depois de voltar de viagem da semana da fazenda (4 dias tirando leite de vaca, uma andada a cavalo que me rendeu dores na perna até sábado) e 3 dias em um jornal pequeno em Eau Claire (Wisconsin), 60 mil habitantes, onde fiquei com um repórter de Pesca e Caça do Leader-Telegram e uma professora de francês de high school. Fizeram festa para mim e me levaram a um bar na sexta, cujos donos foram ao Rio nos últimos 4 anos, adoram música brasileira e me deram uma camisa do bar, um livro de um escritor talentoso - professor universitário - que estava lá e cita o bar no livro, e um pin.
Hoje, estivemos no centro de Saúde da Universidade de Minnesota, a maior dos EUA em número de alunos.
Falamos hj com o epidemiologista Michael Osterholm (autoridade mundial em bioterrorismo e em combate a pandemic influenza, da Ásia - que se desenvolve em aves. Diz que o potencial é para matar até 120 milhões de pessoas e que cedo ou tarde vai estourar. Não prevê vacina para Aids no tempo de vida dele. Disse que afirmou isso em 1984 (George Orwell...) na 1a página do NYTimes, depois de a secretária de Saúde americano dizer que teria uma vacina em dois anos. É catastrofista e meio metido, mas foi interessante. Acho q vou escrever algo sobre isso pro jornal.
Viajamos para NY sábado, e começa então nossa viagem de dois meses na estrada.
Os americanos que temos conhecido são inteligentes, cultos, generosos- e democratas, todos críticos a Bush. Fala-se muito nos Blue (democrat) and Red (republican) States e em suas diferenças. Steve Berg, ex-correspondente em Washington D.C. para o Star Tribune, maior jornal de Minnesota e um dos 15 mais prestigiosos do país (362 jornalistas!!!), faz uma metáfora que pega a alma das diferenças:
Red Blue
Cowboy (John Wayne) x Dude (Cary Grant)
Open range x Cities and Culture
Individualx Community
Freedom, self reliance (to carry a gun, etc) x Planned order
Exploitation of natural resources x Conservation
Muscle x Brain
Sentiment x Art
States x Federal
Jefferson x Alexander Hamilton
The right Nation x The Economist
Wal Mart x Starbucks
Motors x Hike
Skis x Snowmobiles
Como pode imaginar, estamos em um estado azul. O Macalester College é um dos melhores do país e dos mais liberais - college é um undergraduate degree, sempre antes do graduate degree na Univesity. Os estudantes são progressistas e inteligentes, parte da elite financeira e intelectualdo país. Mais inteligentes e maduros que os brasileiros, na média. Há muitos estrangeiros, tb. A maioria dos alunos passa ao menos um semestre em um país de sua escolha na América Latina, África ou Ásia.

 

Os Amish, ou Testemunha, com Harrison Ford

Os amish são um grupo cristão, que vive como se estivesse no passado, sem eletricidade e a maioria das facilidades que a modernidade oferece. Vestem roupas simples, suspensórios, calças jeans feitas em casa, e chapéu. Falam em "alemão" entre eles, só podem ter relacionamento amoroso depois dos 16 - casam com 18 ou 19, quando passam a usar barba estilo Lincoln até morrer. Têm suas próprias escolas, não podem dirigir ou ter telefone, mas pegam carona em carro e falam ao telefone alheio. Não podem voar ou ser fotografados - a não ser discretamente, sem que nenhum outro Amish veja. Usam charretes pretas com cavalos, e, obviamente, nenhum contraceptivo, o que gera famílias de 9 a 12 filhos. Chamam os não-Amish de "the english". Perguntei ao garoto de 19 anos - casado - se havia Amish em outros "countries", ele disse: "Tem, sim, em Kentucky, Pensylvannia.."

 

Gaspari vê o Brasil

http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp

domingo, agosto 28, 2005

 

Farm Animal

Never seen so many flies.
Gary and Barb did not look comfortable at the Four Points Sheraton Hotel in St. Paul, MN, big city compared to Sturm, WI, where they’ve had a dairy farm for the last five years. First-timers with World Press Institute, neither one talked much at lunch in the Governor’s suite. Once on the green four-wheel Gator, though, managing electric fences and cows, showing around his land and cattle and explaining his daily chores, Gary was himself. And, boy, he did talk with pride and love of their 196 Jersey cows. And the new milking parlor, still to be completed, which has already prevented his ever-lasting pain in the knees. The silent man in checked shirt had given place to a talkative and enthusiastic farmer in jeans, cap and run-out T-shirt.
The many flies don’t bother him, although they‘re worse this year, he admits. He’s seen them since he was a boy, every summer, and there have been 48 already, although it doesn‘t seem like it for him and Barb.
“It’s not as fancy as the hotel where we were, it’s a farm house”, he announced, while pulling over the red Crown Victoria Ford into the garage. Not long after that, 20 cows are lined-up at the entrance of the parlor to be milked. Each one will offer from 70 to 80 pounds of milk a day, average. The Jersey cows produce less than the Holsteins, but it’s worth more, because it has more fat and protein, used for butter and cheese.
“Come on, girls, just gotta go ahead a little bit", says Gary, while he taps their legs with a stick to make them understand his words better. Barb and Gary know most of their animals just by looking at their tits - it‘s all they can see from the parlor. It may seem funny or easy, but it’s not. Just in case, the Olsons keep cows numbered with a plastic band on the right leg; those under treatment get a red band on the left leg. They refer to every cow as “she”. But they have to earn a name. Like “Funny Face”, a 7-year light brown cow with a white stain on the forehead who is the family's favorite. “Guess why she has that name?” She’s so calm that John, 18, the oldest of two sons - the youngest is Josh, 11 - can jump onto her back and ride her.
Anyway, now the cows have been fed outside with a mix of cereals, mineral and hay; they can be brought into the parlor.
It`s a daily routine, twice a day, separated by about 12 hours. No days off, no holidays, no vacation. Farmer’s life:
6:45 A.M.
Clean dry parlor, shiny mechanic milkers.
1. 20 Cows in, 10 each side, lining-up behind white bars, backs turned towards the center of the parlor. The farmers are 3 feet below, so nobody has to kneel or seat on milking stools attached to their bottoms; 10 automatic milkers milk 10 at a time;
2. Spray the tits with sanitizers to avoid infections;
3. Wipe the spray off with paper after a minute or so;
4. Pull the 40 pound-milker that’s hanging from the ceiling on a bar and take it to the tits of the cows, which will be full and stiff, ready to be milked. Some will even milk without being touched. Others will kick, but you are protected behind bars, so don‘t worry.
5. You might get poop - they use a different word- from one or two out of ten and juicy and dark green parts of it reach your arms and shirts. They’ll either scrape it or use a hose to wash it. “You don’t wanna drop milk onto the shit”, explains Gwen, a neighbor who gives a hand once in a while. “Water will be your friend”, Gary heard from farmers when researching to make a new parlor. Used to dry milking in barns, he didn’t realize then the importance of water. Not only to wash up in emergencies. “The dirtier the tails are the more likely the cow will slap your face with a fresh juicy piece of shit.”
6. Hold the four parts of the milker and stick one tit at a time inside it. It will suck the milk and will come off automatically when the cow is over.
7. Spray some more sanitizer on their tits.
8. Send them away and wash the parlor with a hose.
9. Get the next 10 ones in.
8:52 AM: All cows have been milked.
Gary is pretty happy with the parlor he’s had for the last few months. Skeptical Barb likes it too, “but let‘s wait till winter”. He enjoys learning and experimenting new things and has even been on Wisconsin Public Radio and in the pages of local Country Today explaining how he can do the same job in less time without knee or back aches. Now he stands up the whole time.
The kids help out, feeding the animals, bringing them to the parlor, mowing the pasture, picking up feed in town with the old truck, driven by John, who almost lost his license after a couple of speeding tickets. 11 year-old Josh has his own tractor. He’d been complained that everyone had a tractor and Barb had gotten a convertible. A day after a snow storm, Gary and he went to an auction and wanted that 1979 silver tractor, to be sold by a neighbor. It ended up costing more than expected. “I can never forget the look in his eyes when we finally got it. And he might be 90 and will still remember that day. Nothing that can pay that.” Gary told me the story at his favorite spot on the farm, a hill where he stops early in the morning and looks proudly at the property. “Ain’t much, but it’s all I can call mine. And I brag myself here.” Little Josh told me a few times: “You’re welcome to take the flies home”. I might.

sábado, agosto 27, 2005

 

Surpresas com os americanos; outra vida é possível

Muito boas as conversas q tenho tido com as pessoas, nesta parte do país muito inteligentes e cultas até, muitas vezes; muitos professores universitários, jornalistas, gente da elite intelectual. Minnesota e Wisconsin estão entre os estados mais educados e Minn foi o estado onde houve maior % de votação no país na eleição presidencial (mais ou menos 70%) -voto não é obrigatório nos EUA. Nossa vida no Brasil é muito violenta e urbana. Muita pobreza, contraste e corrupção. Há outras possibilidades, e é bom e triste ver isso. As pessoas vivem bem, têm seus problemas, mas têm dignidade e qualidade de vida. Estou em uma cidade de 60 mil habitantes e uma empresa têm quatro jornais, com uns 30 jornalistas no maior - um voltado para o campo, semanal. O cara q me hospeda é repórter há 23 anos de lá. Escreve sobre pescaria e esportes outdoor. Ganha um salário decente. A mulher é professora de francês em uma escola secundária pública. Tem uma casa e dois carros. Viajam quando podem. São relativamente cultos.

sexta-feira, agosto 26, 2005

 

Caso Valdeci Paiva, Bispo Rodrigues

Parece que estão falando novamente sobre o assassinato do deputado estadual e ex-pastor da Universal Valdeci Paiva de Jesus (PSL), em janeiro de 2003, início da atual legislatura na Alerj.
Trabalhei bastante nessa história e ouvi de verdade Marcos Abrahão, o suplente que assumiu a vaga e foi acusado do crime. Antes, só tinham ouvido ele pro forma.
Segundo seus assessores, que tinham sido assessores de Valdeci, Bispo Rodrigues foi 'a casa do pastor no dia de sua morte, com alguns dos assessores do Valdeci e fez uma limpa. Os proprios assessores me contaram - a maioria ficou no gabinete do Abrahao. Ele pegou uma mala de dinheiro com US$ 80 mil, se não me engano e levou, dizendo que daria para a família de Valdeci. Pegou ainda as fitas de grampo que Valdeci tinha encomendado a um detetive particular. Depois de dez dias, talvez, algumas das fitas foram entregues à polícia. Segundo os assessores de Abrahão, muitas outras não foram entregues, assim como o dinheiro nunca foi entregue. Uma das suspeitas que eles têm do motivo do assassinato de Valdeci é que parte das fitas dizia respeito a Rodrigues, grampos de telefonemas dele. Segundo o ex-chefe de gabinete de Valdeci, o advogado Rogério Baptista (nossa fonte no caso Loterj, fantasmas), e o ex-assessor de Valdeci, Jorge Dias, Valdeci não queria mais pagar o dinheiro que o Bispo lhe cobrava mensalmente por conta da eleição pela igreja. Disse que não pagaria mais. Isto é fato, segundo eles.O que acham é que ele teria chantageado o bispo e dito que tinha as fitas ao Bispo.Quando perguntei ao bispo se ele não achava que era estranho um deputado ter tanto dinheiro vivo em mãos e qual o motivo, ele respondeu: "Vocë há de convir que o deputado faz um favor para um empresário aqui, outro ali, e pode haver uma compensação.... Não estou dizendo que eu faço isso, mas é o que acontece". Tenho isso gravado e publicado.
Tudo isso está nas primeiras matérias, aquelas sobre o crime, em maio de 2003, acho.A primeira conta todas as versões, dos dois lados, da morte do pastor.As pessoas que assessoravam Valdeci eram fiéis ao bispo Rodrigues, seu líder espiritual, algumas moraram com ele na Africa e tudo, portanto não seria apenas pelo emprego que inventariam a história e passariam para o lado do "assassino", contra o bispo.Todos disseram: "No dia da morte, quando todo mundo ainda estava chorando, logo ao saber do assassinato, o bispo veio para mim e disse: 'Irmã, é para dizer que foi o Marcos (Abrahão)'.

quinta-feira, agosto 25, 2005

 

De Tancredo para Lula (Elio Gaspari)

http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp

 

O sereno dia-a-dia da turma de Dirceu - Augusto Nunes (JB)

Depois de examinar os depoimentos colhidos pelas CPIs do Congresso, e de confrontar o conteúdo de cada oitiva, o colunista apresenta aos leitores o primeiro relatório parcial sobre a crise no Pântano do Planalto. O documento trata exclusivamente do cotidiano da Casa Civil no governo Lula:
"Com base no que foi dito pelos depoentes, cujas declarações consumiram, somadas, 277 horas, conclui-se que o primeiro mandamento da Casa Civil pode ser resumido em quatro palavras: 'agir com absoluta discrição'. Examinemos, separadamente, o comportamento dos principais investigados:
1. WALDOMIRO DINIZ. Entre janeiro de 2003 e março de 2004, foi assessor especial para assuntos políticos do chefe da Casa Civil, o agora deputado federal José Dirceu. Deixou o cargo depois de divulgada a fita que o mostra tentando extorquir dinheiro do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O depoente admite que, no momento das filmagens, era um pecador no comando da loteria do Rio. Regenerou-se ao ser nomeado por Dirceu, de quem era amigo desde 1991, quando dividiram um apartamento em Brasília. Nega as evidências de que, já instalado no Planalto, negociou propinas com exploradores de bingos. Passava quase o dia inteiro no Congresso. Conseguiu a conversão de parlamentares inicialmente refratários a propostas do governo sem distribuir mensalões. Não conversava com o chefe sobre as incursões diárias ao Legislativo. Muito menos com os companheiros de trabalho na Casa Civil.
2. MARCELO SERENO. Assessor especial da Casa Civil até a queda do chefe, limitou-se a administrar o tráfego de pedidos, indicações e promessas. Não tinha poder de decisão. Apenas encaminhava aos canais competentes papéis avalizados por Dirceu (eventualmente, retransmitia reivindicações orais). Não tratava de assuntos profissionais com os demais inquilinos do latifúndio no 4º andar do Planalto. Muito menos com Waldomiro, que conheceu só de vista.
3. JOSÉ DIRCEU. Como os assessores não lhe contavam nada, também nada contava aos assessores. Nem tinha tanto a contar quanto se pensa. Nunca ouviu alguém falar em mensalão. Não comercializou nomeações. Episodicamente, fazia ao presidente uma ou outra sugestão, nenhuma delas relevante. Ajudou a consumar acordos com partidos que formariam a 'base aliada', mas todos resultaram de afinidades políticas e/ou ideológicas. Depois do 'incidente' protagonizado por Waldomiro Diniz, transferiu para Aldo Rebelo a agenda de entendimentos com parlamentares. Concentrou-se na condução de dezenas de grupos de trabalho interministeriais. Falava muito com o presidente Lula, quase sempre sobre amenidades. Nunca trataram de casos de corrupção. Acredita que ambos foram diariamente traídos pelo silêncio de companheiros bem informados.
Aos inquilinos da Casa Civil, devemos acrescentar dois freqüentadores assíduos.
1. DELÚBIO SOARES. Aparecia por lá regularmente, mas o Delúbio tesoureiro do PT (e parceiro de Marcos Valério) ficava na portaria. Quem entrava era o amigo Delúbio, decidido a não conversar sobre coisas sérias com velhos companheiros. Falou com Dirceu duas ou três vezes. Talvez quatro. O chefe perguntava pelas crianças, Delúbio informava que passaria o réveillon com Marta Suplicy e Luís Favre. Jamais conversaram sobre mensalão, neologismo que só conheceram pelos jornais.
2. SILVIO PEREIRA. Usou a sala de reuniões da Casa Civil para numerosos encontros. Não se lembra dos assuntos tratados. Nem dos presentes. Nem de ter feito reuniões. E nunca visitava Dirceu.
Apresentadas as conclusões, segue-se o parecer: o relator recomenda cadeia para todos. Por vadiagem."

quarta-feira, agosto 24, 2005

 

Animal Farm

Acabo de passar quatro dias em uma fazenda leiteira (dairy farm) em Allen, Wisconsin (1000 habitantes, cidade exclusivamente rural), com os Olson, uma adoravel familia que cria 197 cabecas de gado jersey. Fiz de tudo um pouco, mesmo as coisas mais dificeis, como acordar as 6h22 (so um dia), tirar leite de vaca, dirigir trator, dirigir um Gator (veiculo 4x4) usado para tudo, sujar a mao, a camisa e a calca de bosta de vaca e nao ligar, enfim. tambem consegui andar a cavalo, mas infelizmente so uma vez. Uma vizinha passou por la a cavalo e peguei emprestado por uma meia-hora. Me diverti muito.
A raca Jersey (animais marrons e relativamente pequenos) produz aproximadamente de 40 a 50 lbs de leite bastante gorduroso (mais de 4% de gordura, em media) por dia, destinado para uma empresa que produz manteiga e queijo. O leite vale pela quantidade, mas principalmente pela porcentagem de gordura e proteina - acima de 3,5% e 3% respectivamente, ganha-se bonus. A media dessas jerseys e de 4,2-4,5% e 3,9% para proteina.
Sao duas duas ordenhas mecanizadas por dia, separadas, em media por 12 horas. A primeira comeca por volta das 6h50 e a segunda, 17h30, 18h. Entre 85 e 100 vacas sao ordenhadas por dia - o restante e de halves (menos de 2 anos, ainda nao tiveram filhotes e nao produzem leite) e calves (bezerros). Gary Olson, o dono, construiu um milking parlor engenhoso para a ordenha, normalmente feita em estabulos, onde cada vaca tem seu minicurral. E tudo muito clean. Fiquei impressionado ao ver tudo limpinho as 6h50 de domingo, antes da ordenha. Durante, lava-se o coco no chao com mangueiras o tempo todo. Antes da tirar o leite, joga-se spray sanitario nas tetas para prevenir infeccoes e bacterias; apos 1 min, seca-se o spray e limpa-se eventual coco ou sujeira nas tetas; poem-se as ordenhadeiras, que caem automaticamente quando a vaca reduz a producao.
E um retangulo, mais ou menos dividido em 3 partes; nos dois extremos ficam as vacas, enfileiradas e viradas de costas umas para as outras, com as tetas apontadas para o centro, onde, 1m abaixo, em uma plataforma, ficam os fazendeiros. Ninguem precisa mais arriar, se abaixar e dobrar os joelhos, levantar... a cada vaca. As tetas agora ficam na altura dos olhos e basta empurrar as ordenhadeiras automaticas e colocar uma em cada teta, para a succao.
O trabalhador fica protegido por barras de ferro e uma capa de plastico maleavel que impedem coices e que o rabo cheio de coco o atinja na cara. "Ha uma relacao direta segundo a qual quanto mais sujo de merda estiver o rabo, mais provavelmente a vaca vai esfrega-lo sua cara", diz Gary.
O principal e que ele nao precisa mais se abaixar e ajoelhar, o que previne graves problemas de joelho que ele e muitos fazendeiros tem. Interessante.

 

Codigo de Ética do Leader-Telegram (Eau Claire, WI)

http://www.ecpc.com/EthicsCode.asp

 

Noticia em Ely, MN

Essa foi a materia do Ely Echo, semanario da pequena cidade no norte de Minnesota, sobre o forum com os jornalistas da WPI.

http://www.elyecho.com/main.asp?SectionID=2&SubSectionID=2&ArticleID=7217

terça-feira, agosto 16, 2005

 

Crise desestabiliza o Governo, mas não a democracia

A instabilidade do Governo é grande, embora a democracia não esteja ameaçada. Artigo do famoso Larry Rohter no NY Times de domingo (http://www.nytimes.com/2005/08/14/international/americas/14brazil.html) diz o que alguns jornais nossos já disseram: não interessa à oposição derrubar Lula, mas mantê-lo fraco e derrotá-lo ano que vem. Não acho que ninguém, nem a oposição, seja capaz de controlar os eventos e descobertas das CPIs e da imprensa, cada vez mais graves e em um ritmo alucinante. Lula tem sido incapaz de responder à altura, mantêm-se evasivo e aparenta estar perdido.

De todo modo, se Lula usou dinheiro não declarado, de conta no exterior, em sua campanha, para se eleger; se o PT (Governo) pagou despesas de campanha de aliados; se tantos deputados e petistas receberam dinheiro ilegalmente e cometeram crime; se parlamentares receberam dinheiro para apoiar o Governo e seus projetos, então o governante e o partido cometeram crime de responsabilidade. Se a lei diz que o destino é o impeachment, que se cumpra a lei.


 

Violência e Liberdade de Imprensa no Rio

O texto abaixo é uma resposta a perguntas da jornalista britânica Jo Wright, que atua como correspondente de um jornal sul-africano e freelancer da BBC.
Ela pretende escrever sobre o impacto da violência sobre a liberdade de imprensa, a comunidade e suas lideranças locais. Quer descobrir o impacto do assassinato de Tim Lopes e eventuais mudanças subseqüentes nas redações.

I believe violence has a significant impact on press freedom in Rio currently. The fact that journalists cannot enter a favela without a direct or indirect (through a community leader, usually connected to the crimminals) "authorization" of the local drug dealers certainly limitates our work.
It is too risky and we know we might actually get killed.
Society and especially the favela population are most affected because what happens inside their communities is restricted to the place; that leads to keeping the status quo. The "ghettos" are usually commanded by brutal young men, who rule small armies ranging from 20 to maybe 150 men, many of them with assault rifles, handguns and even hand grenades. The community is in a sort of a prison. Oppression and threat brings the communities to a "law of silence", which in the short term prevents the factual truth to be printed; in the long run, it allows tyrany to persist.
Coverage is normally occasional, limited to violent events and police actions (often criticized for their brutality and disrespect to civil and human rights).
Reporters have had a hard time trying to find out what really took place and are frequently limited to police analysis and quotes, which are certainly partial in many cases. In my application for the World Press Institute fellowship I said that violence is a menace to the freedom of expression in Rio.
It's been like that for a while, but it certainly has increased since the murder of Tim Lopes. We started hearing ironic comments when in a favela, even from locals not connected to the "movimento", such as: "Gonna become another Tim Lopes!"
I believe that a sort of respect and psycological barrier towards journalists was suddenly erased, and their "fear" of threatening a press member - if it is still not right to say is extinguished - certainly decreased, despite they know they can get in trouble by doing anything to us.
The murder of Tim Lopes was certainly a turning point, as well as made newsrooms rethink the chances and safety of reporters in field. Security became an important issue of discussion, and some media organization took effective measures in order to guarantee the safety of their reporters. O Globo and Extra got a couple of armoured cars, with bulletproof windows for favela "incursions". Folha de S.Paulo got bulletproof vests. In most cases, unless there's a shooting - and if possible - nobody wears them, except shortly after the murder. Most newsrooms give express orders to their journalists not to enter a favela in a critical situation, but it's hard to predict when that is and when a shooting will take place, and where to be safe. News is there, tough, so many have trouble not taking chances. Most community leaders are somehow and in different levels connected to local crimminals - it varies from tolerance to "political support" in internal elections and conivence and effective partnership, as some tappings recently showed in Rocinha. Until some years ago, community leaders had a> certain authonomy and could manage to operate separately from crimminals; I am afraid it doesn't happen very often anymore. I believe there's a book by a guy, maybe an anthropologist, who lived in Rocinhathat really goes into that topic.
The arrest of Maluco was an effective and necessary action of the Police, but it does not chance the frightening current picture: there are at least 30 well-armed and dangerous gangs commanded by violent and drug addicted teenagers and young adults in the city. 30 Malucos. Apart from minor gangs, equally wild and dangerous. It hasn't gotten to phone or personal life threats, as far as I know, but reporters might face danger every time they go to a favela. I believe it's > like being in a certain kind of war, and there's no logic or rationality, concerning those crimminals, as facts and all sorts of crimes towards citizens have shown. The problem the press faces now in Rio is not restricted to us, it is actually the major national concern, and easy solutions have proven not to be effective. It is an endemic social problem, fed by the absence of state > presence, lack of public policies focusing the poorer areas and population and especially the favelas. A culture of violence reigns in those places; crimminals are many times seen as "cool". They have the money, the power, the girls. They can do whatever they want and that's more than most uneducated can have. Most of them either get killed or end up in jail. Kids and girls feel attracted to this illusive power. The whole culture is related to violence: music, language, playgames. Obviously, the lack of good public education is in the core of the problem and needs to be addressed urgently. O DIA journalists were involved in three recent> violent episodes of violence, related to coverages.
1. A team was in a police helicopter when it was targeted by crimminals from > Morro da Providência. The helicopter did not go back and journalists were under intense fire. Eventually, a police squad surrendered and supposedly - very likely - executed the two surrundered men. The photographer managed to shoot pictures and realized he had gotten both pictures of the men alive with their handas behind their backs and photos of policemen bringing the bodies down minutes later. The pictures were awarded with the Photography Esso Award (the most prestigious in the country). The photographer is Carlos Moraes. The reporter was Marcia Brasil.

sábado, agosto 13, 2005

 

O Começo de Tudo

Quem diria, Raphael Gomide, você com um blog? Pois é.
Vou escrever, em princípio, sobre meus 4 meses de viagens pelos EUA, durante minha bolsa do World Press Institute (worldpressinstute.org), fundação baseada em Minnesota em prol da liberdade de imprensa. Todo ano, a WPI seleciona 10 jornalistas de todo o mundo para uma imersão no jornalismo, cultura e política norte-americanos.
Os fellows visitam os principais jornais do País, assistem a palestras de professores do Macalester College - onde estudou o secretário-geral da ONU, Koffi Annan -, têm aulas de jornalismo investigativo, computer-assisted journalism, e viajam pelas principais cidades dos EUA para visitas e conversas. O programa dos últimos dois anos está no site da WPI.
Vou relatar o que achar de mais interessante das aulas e visitas, em uma espécie de arquivo pessoal. Devo escrever também minhas opiniões sobre o Brasil, política, Direitos Humanos, violência e temas diversos.
Não serei chato, prometo.
Breve perfil:
Raphael Gomide, 28 anos, jornalista, carioca.
Trabalho atualmente para o jornal O DIA, do Rio. Já passei pelo Lance! (99-2000), Folha de S.Paulo (2000-2001), Jornal do Brasil (2001-2002), O Estado de S.Paulo (2002-2003).
Em 2004, ganhei o Prêmio Mundial de Direitos Humanos da Anistia Internacional, pela série de reportagens Escravos do Século 21, publicada pelo DIA entre 15 e 17 de novembro de 2003.
A série recebeu Menção Honrosa do XXIº Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e pela Ordem dos Advogados do Brasil-RS, com colaboração da Associação ARFOC-RS, ARFOC/Brasil e UITA, União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação, Agricultura e Afins - Regional Latino Americana.
Escravos do Século 21 também foi finalista dos prêmios da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e do Prêmio Tolerância, da ONU, ambos em 2004.
Em 2003, participei como bolsista do Seminario-Taller en Temas de Política y Gestión Social, promovido pela Fundación Nuevo Periodismo, fundada e presidida pelo escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?