quinta-feira, novembro 10, 2005

 

O Ódio

Mathieu Kassovitz antecipou em 9 anos a onda de violência e vandalismo na França. Ele é o diretor de "La Haine" (O Ódio), duro filme que trata de uma sociedade que insiste em que "até aqui tudo vai bem". E tudo nunca continua como está. Sempre piora, se ninguém faz nada.
Conhecemos bem esta história; os franceses estão conhecendo agora.
É a cobrança da dívida colonial. É fácil imperar, dividir, ocupar.
Argélia, Marrocos, Tunísia, Senegal... Não eram França? Pois. Mas não franceses.
Incômodos imigrantes, eles foram para 'casa'. São os filhos desses solos agora moradores dos subúrbios, muçulmanos, mão-de-obra parisiense.
Falam árabe, falam francês. Escarram francês, cospem palavrões, gritam ódio e ressentimento.
No filme, metáfora, há o árabe, o negro, o judeu.
A anedota que permeia a história tem a seguinte moral:
"É a história de uma sociedade em queda e que 'a medida que cai, repete incessantemente para si mesma, para se certificar: até aqui tudo vai bem, até aqui tudo vai bem, até aqui tudo vai bem. O importante não é a queda, é a aterrissagem." * (Tradução livre)
Que a gente no Brasil não continue a achar que tudo vai bem até aqui.
Ainda pode piorar.

* "C'est l'histoire d'une societé qui tombe et qui au fur et à mesure de sa chute se répète sans cesse pour se rassurer: jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien. L'important c'est pas la chute, c'est l'atterissage."

P.S.: Um pied-noir (francês nascido na Argélia) estimado pelos franceses, Albert Camus, escreveu O Estrangeiro, romance sobre um árabe que cometeu um assassinato por quase nada e é condenado talvez porque não tenha chorado no velório e enterro de sua mãe. O começo do livro revela o caráter do personagem. "Hoje, minha mãe morreu, ou talvez ontem."

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