segunda-feira, outubro 17, 2005

 

Vitória da vida

Depois de sobreviver cinco anos em quatro diferentes campos de concentração nazistas, o menino judeu belga de 18 anos está no bosque, frente a frente com um pelotão de fuzilamento do exército nazista alemão. É 1945. Subitamente, os soldados baixam armas. “Vai embora agora! Corre!”, determina um alemão, aos gritos. Henri Landwirth corre sem parar até desmaiar. É acolhido por um casal tcheco, e sabe por eles que a 2a Guerra Mundial acabou. O saldo não é vitorioso. Sobreviveu, mas perdeu o pai, Max. O navio em que a mãe, Fannie, estava foi explodido no mar. Após meses de busca e angústia, ele encontrou a irmã gêmea, Margot, em um campo de refugiados.
O menino que passou a infância e desafiou a morte diariamente em campos de concentração e extermínio - Auschwitz, entre outros -, hoje realiza sonhos de crianças doentes terminais, de 3 a 18 anos. Vítimas de câncer, leucemia, HIV, ou doenças degenerativas, seu último desejo é ir aos parques da Disney World, na Flórida. Como ele no passado, elas não têm controle sobre a própria vida e a morte. Henri é o dono da ONG “Dê o mundo ‘as Crianças” (Give Kids the World), que todos os anos leva 6.100 famílias de meninos e meninas quase sem perspectiva de cura aos parques, por uma semana, para realizar o seu último desejo. As famílias não gastam nada.
“Amo a vida. Não era para eu estar aqui. Por tudo o que enfrentei, era para eu estar morto. Se eles quisessem me cortavam em pedaços. Minha vida inteira é um milagre, e é meu dever retribuir. E você tem de se dar - não é dinheiro, mas a sua própria essência. É isso o que faz a vida ter sentido”, diz Henri.
Não se trata simplesmente de passagens e hotelaria. A atenção é especial para cada um dos convidados. O Village de 96 casas para até 7 pessoas cada, está sempre cheio de visitantes, 100 funcionários e 900 voluntários, os “anjos”. “Sem os anjos, nós não existiríamos”, diz o gerente-geral, Mitch Goldberg. Tudo é colorido, cheio de vida, divertido. Nos 51 acres da minicidade, há lagos, campos de golfe temáticos (com dinossauros, cavernas e barulhos a cada acerto), castelos, salas de jogos, sorveteria. As áreas comuns foram construídas e doadas por empresas como Hard Rock Café, K-Mart, Universal Studios, Planet Holywood, mas não há sinal disso. “Nossa filosofia é que quem está aqui é pela missão, não para fazer propaganda”, explica Mitch. A Procter & Gamble doa sabonetes e produtos de higiene e limpeza; a Disney dá seis dias de entradas nos seus parques de diversão, os mais famosos do mundo - Disney, Universal Studios, Busch Gardens, Kennedy Space Center. “Nunca assinei um contrato, é sempre de boca”, diz Henri.
O “Dê o Mundo ‘as Crianças” trabalha em convênio com entidades chamadas de “Faça um desejo”, para crianças de 3 a 18 anos em estado crítico de saúde, normalmente vítimas de câncer, leukemia, HIV, ou doenças degenerativas, cujo ultimo desejo é ir aos parques da Flórida. Do total, 8% são estrangeiras, de 50 países, inclusive brasileiras. “Se alguém nessa situação quer vir aqui e tem autorização do médico, vamos garantir que ela venha. Nunca recusamos uma criança”, assegura Henri.
Os meninos e meninas vêm acompanhados de dois adultos, e dos irmãos, quantos forem. Ninguém paga nada. Um pedido nos EUA pode ser realizado em até 24h; um internacional pode demorar três dias. “Tempo é algo que essas crianças não têm”, afirma Mitch. Se não levaram cameras de filmar ou digitais, podem pegar emprestadas. Sorvetes, cachorros-quentes, almoços e jantares, tudo é gratuito.
Devido ao estado de saúde dos pequenos convidados, já houve casos de morte no village, mas são raros. Um ocorreu há dois meses. “Foi muito triste; tudo fica muito quieto.” O normal, entretanto, é que as crianças melhorem.
Henri considera o village mágico, um lugar onde tudo dá certo. “Deus está aqui. Casais separados vêm juntos e ‘as vezes se casam de novo. Me lembro de uma menininha muito doente, para quem os médicos previam três dias de vida. O sonho dela era conhecer a Minnie Mouse. Ela chegou e começou a correr de um lado para o outro. A mãe se assustou, e eu disse: deixa ela! Eles se esquecem de hospitais, seringas, médicos. Ela ganhou energia, vida. E viveu mais seis meses.”
Na capela ecumênica, que já abrigou até casamentos, famílias deixam mensagem de agradecimento e esperança. Na parede, próximo ao teto, nuvens azuis de papelão. Um menininho de 5 anos saiu da capela sem o cobertor que carregava por onde ia. “Cadê o seu cobertor?”, perguntou a mãe. “Joguei no paraíso (nuvens azuis): queria que estivesse esperando por mim quando eu chegar lá”, respondeu o menino.

Valores do Give kids the world:
Compaixão, Dedicação, Credibilidade, Integridade e Trabalho de Equipe

“Give Kids The World é dedicado ’a memória de todas as crianças cujo último desejo não pôde ser realizado. A cidade das crianças, construída com o compromisso altruísta e o espírito generoso de tantas indústrias e empresas, existe por apenas uma razão: servir as crianças com doenças terminais e suas famílias.
A vila pertence principalmente, e sempre pertencerá, ‘as crianças que a procuram. É uma vila onde nenhuma criança será jamais recusada e onde a família vai encontrar alegria, riso, serenidade e memórias para o resto da vida. É uma vida construída com base na palavra e em apertos de mão. Que todos os que passarem os nossos portões reconheçam que é responsabilidade de todos nós amar e cuidar de cada uma das crianças.”

Site na internet: gktw.org

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