quarta-feira, outubro 05, 2005

 

Febre aviária = 180 milhões de mortos

"É impressionante o que será capaz de fazer. Vai parar a economia mundial", diz Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisas de Doenças Infecciosas

A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez questão de negar oficialmente, na semana passada, a previsão do médico da ONU David Nabarro de que uma eventual pandemia da gripe aviária causada pelo virus H5N1 poderia matar até 150 milhões de pessoas no mundo - estimou entre 2 milhões e 7,4 milhões. A opinião do coordenador da ONU no combate 'a gripe aviária é, porém, partilhada por alguns dos maiores especialistas do mundo no assunto. Uma das maiores authoridades em Saúde Pública nos Estados Unidos, o diretor do Centro de Pesquisas de Doenças Infecciosas, professor da Universidade de Minnesota (EUA) e integrante do Conselho Nacional de Ciência em Biosegurança, Michael Osterholm, afirma que o número pode ser ainda maior, caso a doença deixe de ser transmissível apenas de aves para humanos e passe a ser contagiosa de pessoa para pessoa - o que ainda não foi registrado. Desde 2003, 66 pessoas já morreram na Ásia em decorrência da gripe. Osterholm é fatalista e prevê uma epidemia de grandes proporções.
"Não se quer tratar com o que está vindo por aí. A gripe pode matar 180 milhões de pessoas em um ano - o virus HIV da Aids matou 32 milhões desde os anos 70, por exemplo. É impressionante o que será capaz de fazer. Esse vírus muda um pouco a cada ano; começou em aves selvagens, mudou geneticamente e fez seu caminho até pássaros domésticos, que contaminaram o homem. O próximo passo é passar a ser transmissível de pessoa para pessoa", sentencia Osterholm, também diretor-adjunto do Centro Nacional para Proteção de Alimentos do Departamento de Segurança dos EUA. Especialista em bioterrorismo, Osterholm foi conselheiro pessoal do Rei Hussein, da Jordânia, até sua morte, em 1999, e do ministro da Saúde dos EUA, Tommy G. Thompson, entre 2001 e 2005, em bioterrorismo e Saúde Pública.
Segundo o epidemiologista, cedo ou tarde a pandemia (epidemia mundial) vai acontecer e hoje o mundo não está preparado para enfrentá-la.
A diretora-adjunta de Ciência do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) - em Atlanta (Geórgia) -, referência mundial em doenças infecciosas, Tanja Popovic, confia na ánálise de Osterholm, com quem já atuou no CDC. Tanja era a diretora do laboratório do CDC em 2001, quando atentados com a substância antraz mataram cinco pessoas e aterrorizaram os EUA, e o CDC comandou os esforços nacionalmente no tratamento de vítimas e pesquisas.
"Não se quer espalhar pânico, mas não se tem uma vacina para a gripe. A mortalidade é de 50%. Esse número de 150 ou 180 milhões é uma estimativa, o que é sempre difícil de dizer, mas é uma boa estimativa, com base no que se sabe. Acredito nos que estão trabalhando com isso, como Osterholm. O perigo e o temor é que o virus se torne transmíssível de pessoa para pessoa, o que não se pode garantir que vai acontecer. Mas esta é a maior ameaça 'a saúde pública hoje", afirmou Tanja Popovic.
Para Osterholm, o mundo não está mais bem preparado hoje do que estava na epidemia da gripe espanhola de 1918 e 1919, que matou aproximadamente 50 milhões. "Não temos remedios nem drogas. Estamos em uma situação muito parecida 'a de 1918, que pode matar da mesma maneira, e estamos muito próximos disso."
Segundo ele, a eclosão da doença "vai parar a economia mundial". "O vírus não para de mutar e se acostuma com humanos. As doenças infecciosas são internacionais. As barreiras políticas não significam nada."
Osterholm diz que não há comparação plausível com Sars. "Sars não é doença difícil de se controlar. Houve 8 mil casos e 800 mortes. Não é bom, mas não é uma epidemia." Segundo ele, a pandemia vai acontecer. "É como um tsunami."


NOVOS ATAQUES TERRORISTAS COM ARMAS BIOLÓGICAS SÃO QUESTÃO DE TEMPO

Não é só sobre a gripe aviária que o epidemiologista Michael Osterholm tem opiniões polêmicas. Ele não crê na invenção de uma vacina para a cura do HIV, o virus da Aids, nos próximos 40 anos. "Não acredito que tenhamos uma vacina enquanto eu estiver vivo."
Especialista em bioterrorismo, Osterholm está certo de que novos ataques terroristas com armas biológicas são uma questão de tempo. "Terroristas vão usar armas biológicas novamente. Tenho certeza de que vai acontecer de novo. Não se podem prevenir ataques biológicos, e o problema é que causa pânico. Houve 22 ataques com Antraz e só cinco mortes, que quase derrubaram os Correios dos EUA."
Em 11 de setembro de 2000 - exatamente um ano antes do ataque terrorista que destruiu as Torres Gêmeas em Nova Iorque e parte do Pentágono, em Washington D.C. -, ele lançou escreveu um livro em que alertava para os perigos do antraz, usado por terroristas depois do 11 de setembro.
Segundo o epidemeiologista, o fim de programas da União Soviética na área cria instabilities e deixou especialistas "desempregados". "Para algumas pessoas seria relativamente fácil, se você está no negócio. Há alguns tipos de bactérias, em grande quantities, que são altamente letais, e doenças sob controle como varíola, que podem ser usadas com propósitos terroristas", diz Osterholm.

CDC VIROU CASA DE CIENTISTAS DURANTE ATAQUES DE ANTRAZ
Manipulação e pesquisa de antraz são dia-a-dia de alguns dos laboratórios mais modernos do mundo
Quando os ataques terroristas usando antraz aconteceram nos Estados Unidos, matando cinco pessoas e ameaçando o Congresso do país, os laboratórios código de segurança número 3 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em Atlanta, viraram a casa de 43 cientistas por três semanas. A médica croata Tanja Popovic, com pós-doutorado em Microbiologia, coordenou a equipe e pôs a mão na massa, fazendo testes que confirmavam ou não a existência de antraz em amostras.
"O telephone não parava. Ora era o FBI, ora era o prefeito de Nova Iorque, Rudolf Giuliani querendo informações. Nós descansávamos por algumas horas em colchões na sala de reuniões e deixávamos a comida em duas geladeiras e freezers na outra salinha, porque não podíamos sair do prédio", lembra.
Embora haja métodos específicos de segurança para o transporte de agentes biológicos, ela contou que uma das amostras foi trazida de carro da Flórida, estado vizinho, por um agente do FBI, até o CDC. "Havia outros institutos ajudando, mas nós dávamos a palavra final. Estávamos preparados", explica ela, uma mulher de movimentos rápidos, voz imperiosa e pouca paciência.
Desde os atentados, os laboratórios - onde as fotos são proibidas -, têm vigilância constante e sistemas de segurança sophisticados, como o reconhecimento das feições de uma pessoa para poder entrar em determinadas áreas. O CDC, que acaba de inaugurar as instalações mais modernas do mundo para a área, reúne amostras das mais letais bactérias e vírus em pesquisa.
Durante as primeiras semanas dos episódios de antraz, ela praticamente não foi em casa. "Meu filho de 21 anos me ligou para saber se eu estava bem, viva. E um filho de 21 anos não costuma ligar para saber da mãe. Foi intenso e empolgante, ninguém reclamou."
O DIA presenciou a manipulação e testes com colônias de milhões de bactérias de antraz Altamonte tóxicas em um dos laboratórios de código 3 de segurança do CDC. Para manipular as pequenas caixas de plástico de 10 cm de diâmetro, o pesquisador usava roupa estéril, máscara estilo capacete, com respirador artificial ligado a uma máquina por um tubo, e duas camadas de luvas em cada mão - as externas substituídas a cada diferente material manipulado -, além de proteção para os sapatos. O ar do laboratório é diferente daquele do restante dos laboratórios.
O tratamento para antraz requer altas doses de antibióticos, e o diagnóstico precoce é essencial. Depois de um determinado estágio, o paciente tem uma melhora súbita, que, na verdade, é o prenúncio da morte. "É um ponto sem volta."

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