segunda-feira, outubro 17, 2005

 

Computadores do M.I.T. ensinam 'modos' e 'etiqueta' a quem não tem

RAPHAEL GOMIDE
BOSTON, MASSACHUSETS
Imagine ter um celular que avisa quando você é mal-educada e agressiva com o namorado ou quando não deu a devida atenção 'a sua mulher. E o que acha de saber logo depois de uma paquera se ela ou ele gostou do seu papo? Bom, se você é um Dom Juan, um expert em relações humanas e consegue perceber pequenas diferenças no tom de voz das pessoas, ou simplesmente é avesso a tecnologias que substituam o puro contato social, talvez não precise de nada disso. Mas nos Estados Unidos, onde talvez o contato social não seja tão caloroso como nos nossos trópicos, há gente pensando nisso e "computadorizando" as relações sociais. Melhor - para quem interessar -, estão produzindo esses aparelhos que pareciam só existir em desenhos dos Jatsons ou em filmes de ficção científica.
O Laboratório de Mídia do MIT (Massachusets Institute of Technology) - em Boston, Massachusetts - é uma instituição de ponta em pesquisa científica e tecnológica no mundo e é lá que Alex (Sandy) Pentland, cientista de computes e psicólogo, desenvolveu os protótipos dos aparelhos. Pois é, eles já existem, mas ainda não estão 'a venda. "Precisamos ter aparatos muito mais sensíveis socialmente. A atual tecnologia parece estar em guerra com a sociedade: celulares interrompem conversas importantes, pagers vibram, tudo pede sua atenção. Computadores são socialmente ignorantes. Por isso desenvolvemos ferramentas para medir contexto social e ensinar a computadores comportamento social", explica Sandy Pentland.
Os "brinquedos" de Pentland e seus alunos analisam tudo isso pelo tom de voz, segundo ele, o mais poderoso canal social não-linguístico, porque é pouco sujeito ao controle consciente. Ou seja, é difícil ocultar da voz o que se está sentindo. Pentland garante que o sistema montado pelo MIT é capaz de determinar com eficiência de 85% o resultado de um pedido de aumento, se um casal vai trocar telephone em um bar (na maioria dos casos, depende da mulher), ou quem vai ganhar uma negociação comercial. "Nossa máquina ouve os sinais sociais e ignora as palavras. Como você fala é quase tão importante como o que se fala. O que analisamos são algumas das situações mais importantes de nossa vida: encontrar um parceiro amoroso, negociar salário e conseguir um emprego, por exemplo. E o grau de acertos supera o de experts em psicologia social, que é em torno de 70%", diz, animado.
Quatro características servem como indicadores principais: o nível de interatividade (participação) dos interlocutores; envolvimento na conversa, estresse na voz e "espelho" - quando uma das pessoas copia a forma de falar ou as palavras da outra, uma forma de empatia.
"A pessoa passa a ter um retorno de suas interações. Fui duro demais na minha negociação? Pareci interessado quando falei com a minha mulher? Um dos problemas que temos é que nossos sinais sociais são muitas vezes inconscientes e não sabemos como nossa voz soa aos outros. Esse feedback nos treina para nos apresentar como desejamos nas próximas situações e pode tornar as pessoas mais sofisticadas no contato social, ensinando-as a ouvir mais", afirma Pentland, ex-diretor acadêmico do laboratório.
O próprio cientista não garante ser um especialista em relações sociais. Em entrevista de meia-hora com um grupo de nove jornalistas estrangeiros do World Press Institute, da qual o DIA participou, ele perdeu a paciência com um dos repórteres, ficou vermelho e deu respostas agressivas, incitando-o a estudar um assunto antes de fazer perguntas equivocadas.
Talvez não estivesse usando uma das maquininhas que inventou.
p.s.: Esta matéria foi escrita para o jornal O DIA
(LER TAMBÉM: MIT DEIXA QUALQUER UM COMPLEXADO, DE 14 DE SETEMBRO)

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