segunda-feira, setembro 19, 2005

 

Reinventing Aging: Baby Boomers de ontem são voluntários de hoje - Tradição americana vira programa de Harvard

Não é só no Brasil que idosos se sentem abandonados e discriminados ao se aposentar. Nos Estados Unidos, terra do trabalho e "da oportunidade", eles também reclamam da solidão e enfrentam preconceitos. Para combater tabus e aproveitar o talento e a experiência acumulada, a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard - a mais antiga (1636) e prestigiada do País -, e a Fundação Metlife criaram o programa "Reinventando a Idade", que estimula o voluntariado na 3a idade e pretende dar um sentido de engajamento cívico 'a nova fase da vida dos "jovens" aposentados.
O projeto poderia servir de estímulo para iniciativas semelhantes no Brasil.
"Queremos fortalecer a participação social, mobilizando os talentos dessas pessoas, e redefinir o significado da aposentadoria. Eles poderão ser uma fonte social de proporção nunca vista se participarem ativamente na vida da comunidade", explica Susan Moses, diretora-adjunta da Escola de Saúde Pública de Harvard e uma das idealizadoras do Reinventando a Idade.
A pressa é grande, porque se trata da geração do "Baby boom" - (explosão de bebês), grande salto dos índices de natalidade no pós-guerra, entre 1946 e 1964). Os bebês de 1946 serão sexagenários ano que vem. São 77 milhões de "baby boomers", como são chamados, quase a metade da população brasileira, estimada em 175 milhões.
A prática de doar o tempo para ajudar outras pessoas faz parte da tradição social norte-americana, é obrigatória em algumas empresas, está no currículo de colégios e universidades, e pode ser fator decisivo em processos de seleção profissional, mas pesquisas mostram que há diminuição do voluntariado entre aposentados.
A evolução da medicina, da tecnologia e as mudanças no mercado de trabalho elevaram a idade de aposentadoria no Brasil e no mundo. Nos EUA, não há mais idade pré-definida, e a força ativa envelheceu. A aposentadoria já não significa parar de trabalhar totalmente; muitos adotam meio-expediente ou logo voltam ao mercado - formal ou não - para complementar a renda.
Segundo Susan Moses, o voluntariado tem forte impacto positivo tanto psicológico quanto físico e eleva a auto-estima, além de promover relações sociais - fator que os aposentados sentem falta. "Mais pessoas são voluntárias enquanto ainda estão trabalhando do que quando se aposentam."
As formas mais comuns de trabalho voluntário nos EUA são em escolas, igrejas, para ajudar jovens e idosos. Pesquisa do Censo dos EUA mostra que um terço dos americanos entre 21 e 24 anos exercem algum tipo de atividade voluntária; 41% das pessoas entre 25 e 34 anos, metade dos que têm entre 35 e 54 anos. O número começa a cair entre 55 e 64 anos (43%); e vai decrescendo com o aumento da idade - 41% entre 65 e 74 e 39% acima de 74 anos. É esse público que o programa Reinventando a Idade quer atingir.
Aumentar sua participação social e melhorar a vida deles e dos que precisam deles. Pode funcionar nos EUA, pode funcionar no Brasil.
(Matéria enviada ao DIA na madrugada do dia 19 de setembro)

Página do Programa e Cópia do Relatório: http://www.hsph.harvard.edu/chc/reinventingaging/

HOLLYWOOD E TV SERÃO ALIADOS
O programa "Reinventando a Idade" vai usar Hollywood e as populares séries de TV, a partir de janeiro do ano que vem, para ajudar a conscientizar os futuros aposentados a usar seus talentos em prol da sociedade e de si mesmos, como voluntários. Ao mesmo tempo, a idéia é valorizar o idoso e o conceito de que podem ser muito úteis, ajudar e ensinar, a partir de sua experiência.
As indústrias do cinema e da TV - influentes nacionalmente e exportados para todo o mundo - vão colaborar inserindo mershandisings onde pessoas comentarão sobre o projeto ou a idéia indireta e naturalmente, como as propagandas camufladas de produtos. Portanto, não se surpreenda se vir uma referência ao programa durante um filme ou seriado na TV a cabo. As redes de TV também vão ceder espaço gratuitamente para a veiculação de publicidade sobre a campanha. O slogan vai ser: "Divida o seu conhecimento. Torne-se um mentor".
A estratégia vai ser semelhante a uma bem-sucedida campanha de conscientização social nos Estados Unidos, nos anos 80: a do motorista designado. Na época, o objetivo era reduzir os acidentes de trânsito e evitar que as pessoas dirigissem depois de beber. O "motorista designado" foi um conceito importado da Escandinávia, segundo o qual quando um casal ou grupo fosse sair, antes de começarem a beber, uma pessoa seria designada a motorista e não poderia beber, para conduzir as outras com segurança até em casa. Deu certo e a idéia pegou. Conjugada com outras políticas na época, como a redução dos limites de velocidade e aumento da idade permitida para beber, houve redução de 25% nos acidentes três anos depois do início da campanha. Hoje, é uma prática natural entre americanos.

DESAFIO É CRIAR INFRA-ESTRUTURA
Pode parecer confortável para uma ONG ou fundação ter mão-de-obra gratuita e qualificada, mas o que 'a primeira vista é solução pode se tornar um problema. O voluntário muitas vezes acaba não saindo de graça, porque ocasiona alguns gastos e em geral precisa ser treinado e orientado adequadamente.
"A rede de entidades está totalmente despreparada, focada no dia-a-dia, tem restrições financeiras, e os voluntários não são uma prioridade. As organizações precisam se requalificar para atrair e manter esses voluntários, que são exigentes e querem tarefas criativas e que lhes demande esforço ativo e interessante", diz Susan Moses. O programa faz uma série de recomendações a políticos, ONGs, governos, empresas e financiadores de iniciativas de vountariado, como pensar criativamente como usar os aposentados e oferecer um amplo leque de oportunidades a eles.
"Há enormes fontes de conhecimento sobre as quais essas pessoas estão sentadas. Há executivos de grandes empresas que se aposentam e passam a atuar como consultores de negócios para ONGs e fundações que não teriam como pagar por seus serviços. O que poderia ser melhor?", pergunta ela.

Perfil dos Baby Boomers
25%-30% são fumantes x 50% em 1965
40% são obesos x 26% em 1965
Só 3 em cada 10 fazem exercícios físicos regularmente
A expectativa de vida deles é de 83 anos. Muitos vão passar dos 90.
Independentes
Alta escolaridade
(PUBLICADO NO O DIA, EM 30 DE OUTUBRO DE 2005)

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