terça-feira, setembro 06, 2005
1. Jhéck e Terri Schiavo, a morte pede passagem
Para Cranford, Jhéck está no estágio final de um processo degenerativo e "o prognóstico de reversão é virtualmente inexistente". "Se eu fosse consultado, teria um dilema terrível porque iria querer respeitar a mãe, ainda que ela esteja completamente equivocada sobre a real situação do filho. Não passaria por cima de suas objeções, principalmente porque o menino não está sofrendo. Tentaria
insistentemente unir os pais, mostrar 'a mãe que não há esperança, e então trabalhar com os pais por uma solução de consenso, se possível", disse. Cranford reconhece, porém, que provavelmente, a mãe nunca mudaria de opinião e que a Justiça tem mais dificuldade em decidir quando há opiniões contrárias na família.
O neurologista sabe do que está falando. Durante meses, sofreu pressão da família de Terri e de entidades religiosas e grupos pró-vida, por ter avaliado que o estado da americana era irreversível. "A família de Terri me odeia com paixão, tanto quanto é possível se odiar alguém", lamenta ele, que foi consultado pelo marido de Terri, Mike - que defendia o desligamento dos aparelhos.
Em sua opinião, no caso de Terri Schiavo, a mídia - principalmente televisiva - foi sensacionalista e deixou de mostrar a verdade. Ele criticou os políticos americanos, inclusive o presidente George W.Bush, que se contestaram a decisão da Justiça. "Não há nenhuma razão para o presidente e congressistas se envolverem. Eles se passaram por completos idiotas. Fiquei chocado, porque eles não tinham a menor idéia do que estavam falando. Espero que os políticos do Brasil não cometam o mesmo erro".
Ronald Cranford afirmou que a OAB está duas ou três décadas "atrasada" em relação a outros países, que já passaram por dilemas relativos a eutanásia desde os anos 1970. Ele citou o caso de Karen Quinlan, em 1975, quando também atuou.
A vice-presidente da OAB(-RJ??), Carmen Fontenelle, afirmou que a Constituição Federal garante "o direito 'a vida em qualquer circunstância". "O Brasil está provavelmente em um estado mais primitivo que os Estados Unidos ao lidar com esses dilemas ético-legais, que devem ser analisados na cena contemporânea da cultura local, não na minha cultura. Mas desligar um respirador é sem dúvida muito menos controverso do que desligar um tubo de alimentação".