quinta-feira, setembro 29, 2005

 

Bush e Lula, encontro de estrelas cadentes

Quando o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aterrissar o Air Force One no Brasil, em 6 de novembro, para visita oficial a Luiz Inácio Lula da Silva, será o encontro de duas estrelas cadentes. Crises internas de naturezas diferentes em seus países levam ambos hoje a amargar altas taxas de rejeição e a atingir os mais baixos indices de aprovação de seus governos. A dor-de-cabeça de Lula, conhecida de todos, é “Mensalão”, com todos os ingredientes suspeitos de corrupção e illegalidades de campanha supostamente operados pelo empresário Marcos Valério, para o PT e aliados; o drama de Bush tem nome de mulher, Katrina, e força de furacão. A inepta resposta da administração ao desastre natural que arrasou Nova Orleans e outros estados do sul do país foi a gota d’água e a válvula de escape para insuflar a crescente oposição e insatisfação interna com a Guerra do Iraque e as políticas conservadoras de Bush, inclusive no terreno da religião.
A principal diferença entre os problemas dos dois chefes de Estado, entretanto, é o estágio de seus governos e a distância das eleições. Sob esse aspecto, Lula está em situação muito pior que o colega do norte. O presidente brasileiro está a um ano da disputa pela reeleição, em meio ‘a mais grave crise política de um governante desde a queda de Fernando Collor de Mello, em dezembro de 1992. Seu principal homem-forte e braço-direito, José Dirceu, renunciou em meio a denúncias de corrupção, a cúpula do PT caiu e sua própria campanha é suspeita de ter usado dinheiro sujo, sem registro. O partido tenta se restabelecer, com a imagem abalada e perda de componentes históricos. Bush venceu sua segunda disputa pela Casa Branca ano passado, reelegeu-se, e tem mais três anos pela frente. Não pode disputar novamente o cargo e uma eventual derrota em 2008 não seria pessoal.
A imagem do presidente Americano, normalmente ruim no exterior, parece ruir internamente também. Pesquisa das revistas Time e Newsweek nas semanas seguintes ‘a tragédia mostrou que Bush obteve seu recorde negativo - 42% e 38% de aprovação - após o Katrina, provavelmente tonificando a já existente insatisfação com a Guerra.
A demora do Governo federal Americano em antever a gravidade do problema e tomar medias prévias - apesar de alertas -, e depois em reagir ‘as consequências da inundação com rapidez, derrubaram os indices de popularidade de Bush e puseram em cheque sua capacidade de liderança. A conduta pessoal do presidente também tem sido criticada. Ele demorou três dias para suspender suas férias no Texas e passar a tratar pessoalmente do problema - mesmo assim, no primeiro dia, só sobrevoou a área, sem descer.
A idéia de muitos americanos é que o governo federal foi negligente porque a maioria da população atingida é pobre e negra. Entre integrantes de minorias raciais, 65% acreditam que a resposta não foi tão eficiente quanto poderia porque se tratava de negros. Número igual de brancos, porém, discorda.

EUA, PAÍS DIVIDIDO
“United my ass!” (Unidos é o cacete), dizia o adesivo usado por uma manifestante no protesto anti-Guerra, domingo passado em Washington D.C., a apenas centenas de metros da Casa Branca. Os Estados Unidos são hoje um país extremamente dividido e com os nervos ‘a flor da pele.
A polêmica eleição de George W. Bush em 2000 - após demora na apuração e denúncias de fraude electoral -, a política externa aggressiva, marcada por duas guerras e pela batalha contra o terrorismo, e a reeleição no ano passado acirraram os ânimos na política Americana. A rivalidade entre eleitores conservadores (identificados com o Partido Republicano, de Bush) e liberais (a favor do partido Democrata) tem crescido e gerado debates inflamados pelo país - são as duas principais forças políticas nacionais. É comum ouvir nas universidades e ruas críticas contundentes a Bush.
Grupos anti-Guerra e pró-Guerra debatem. Cindy Sheehan, mãe de um soldado morto no Iraque, acampou na porta do rancho do presidente e ganhou as páginas dos jornais antes da Katrina, provocando o debate sobre a Guerra e trazendo ‘a tona ecos da traumática Guerra do Vietnã.
Como há muito tempo não se vê, os EUA estão claramente divididos. Há raiva e descontentamento.
A divisão é até geográfica: tem cores e tudo. Os estados do país são hoje divididos entre Vermelhos (Republicanos) e Azuis (Democratas), conforme os resultados das últimas duas eleições presidenciais e retrato do sistema eleitoral Americano, composto por colégios eleitorais - candidato vencedor da maioria de votos em um estado conquista aquele colégio electoral.
As cores surgiram na TV, para facilitar o entendimento dos espectadores sobre quem liderava em qual estado, e se fixaram no imaginário popular. As differenças políticas e ideologicas entre os estados são mais claras do que podem parecer. Os EUA são um enorme país cheio de disparidades regionais. Os estados do norte e os principais centros urbanos, como Nova Iorque, Washington D.C. (capital), Massachusetts e California são tradicionalmente liberais (azuis). A América Profunda, como é conhecido o Sul dos Estados Unidos, região conservadora e religiosa protestante, integra a América vermelha, que elegeu e apóia Bush.
O jornalista Steve Berg, do Star Tribune, maior jornal de Minnesota, faz uma metáfora extremada para ilustrar o tipo de diferença entre as regiões do país.
“Os estados vermelhos têm como ícone o caubói, John Wayne; os do norte, gostam do almofadinha Cary Grant. Os vermelhos são pelo campo aberto, vida rural, o azul é a cidade grande e a cultura. O vermelho é o individual, o azul é pela comunidade. O vermelho é pela liberdade de se fazer o que se quer, sem dar satisfações a ninguém; o azul é pela ordem social planejada. Vermelho quer a exploração dos recursos naturais; o azul é pela preservação. O vermelho é o músculo, o azul é o cérebro”, brinca, sabendo estar fazendo uma generalização.

RELIGIÃO E POLÍTICA
Não são só a política externa e a guerra que desagradam. A suposta mistura de política com religião, proibida pela constituição norte-Americana, é outro tema de ataques de liberais, que alegam o uso da máquina governmental em benefício de programas assistenciais por intermédio de grupos religiosos, na grande maioria protestante. “O presidente diz-se um cristão evangélico renascido e tem o apoio de boa parte da comunidade protestante conservadora nos EUA”, explica o professor de Religião em Harvard, Richard Perkin.
A religião desempenha um papel fundamental na política nacional. Os EUA são um país extremamente religioso, ele alerta, citando os 92% de americanos que acreditam em Deus, segundo pesquisa do Instituto Gallup.
Bush incorpora a noção do americano cristão médio e se beneficia do fato de 85% da população ser cristã (60% protestante e 25% católica).
A religiosiosidade do presidente se revela não apenas nos discursos muitas vezes encerrados pela frase “Que Deus abençoe a América”, mas em suas próprias justificativas de decisões fundamentais. O jornalista e escritor Bob Woodward, do Washington Post - famoso pela investigação do Caso Watergate, que levou ’a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974 -, conta que quando perguntou ao presidente que conselhos recebera do pai, ex-presidente George Bush, antes da Guerra ao Iraque, foi surpreendido com uma resposta religiosa. “Quando se trata de força, eu apelo a um Pai superior.”
Questões como aborto, pesquisa de células-tronco e o ensino nas escolas da doutrina do Creacionismo, ou Criação Inteligente - segundo a qual Deus criou o Universo e que contesta as noções científicas de Big Bang e Evolução - têm sido debatidas exaustivamente nas universidades, entre politicos e nas páginas de jornais. Bush tem posições conservadoras na maioria dos casos. No episódio da morte de Terri Schiavo - vítima de estado vegetativo por 15 anos, que teve a hidratação suspensa por determinação da Justiça, a pedido do marido, Bush falou publicamente contra a retirada dos tubos de hidratação.

 

United my Ass!


Casal volta da manifestação contra a guerra do Iraque, em Washington D.C., domingo passado. O adesivo dela é "United my Ass" (A tradução seria "Unidos é o cacete", sendo que Ass é bunda, em inglês); o dele diz "No more Bushit" (trocadilho de bullshit, mentira, besteira).
Como há muito tempo não se vê, os EUA estão claramente divididos entre os que atacam com veemência o presidente George W.Bush e sua política de guerra e os que o defendem. Há muita raiva e descontentamento, e os nervos estão 'a flor da pele.
Os estados do país são divididos entre Blue States (Democratas) e Red States(Republicanos), segundo os resultados das últimas duas eleições presidenciais - trato desse assunto também na matéria "Até aqui, a América é só azul, esperemos a Geórgia", de 29 de agosto (Arquivo).
As cores surgiram na TV e se fixaram no imaginário popular. É curioso ver os republicanos, conservadores históricos, usarem a cor dos comunistas e socialistas. O fato é que, na TV, o vermelho se sobressai ao azul... É preciso lembrar que, nos EUA, as eleições não são como no Brasil. Os estados têm um número pré-estabelecido de votos, dependendo da população e do número de representantes na Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados deles), mais dois, número de senadores, igual para todos, como no Brasil (temos 3). Quem tem a maioria simples no estado, leva todos os votos para si. Para vencer~, são precisos 257 votos do Cólégio Eleitoral. É enrolado, mesmo. Eles batalham, no fim das contas, pelos estados que estão na dúvida, e meio que abandonam aqueles onde sabem que vão perder, por serem tradicionais redutos do adversário. A estratégia também evita gastos ainda maiores com a campanha.
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Os fellows


Os fellows, em frente 'a Casa Branca (Matthias, Pilar, Ju, Daniel, Anne, Raj, Teodora, Daniela e eu)
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quarta-feira, setembro 28, 2005

 

Pentágono, ou Mall of America

O Pentágono, quartel-general da maior força militar do planeta, é um grande shopping center.
Parece brincadeira, mas é verdade. A diferença é o sistema de segurança para entrar. A ala é clara, chão branco, repleta de lojas, corredores largos e movimentados, cheios de gente - tudo bem, talvez mais pessoas de uniforme que nos malls comuns -, escadas rolantes e praça de alimentação. McDonald’s, KFC, loja de chocolate, sorvetes, comida chinesa, cinco Starbucks. A idéia é que as pessoas não precisem sair de lá para nada. As linhas de telephone do edifício, se postas em linha, dariam cinco voltas ao redor da Terra.
Ninguém diria que é a sede das poderosas Forças Armadas dos Estados Unidos. A não ser quando se abandona a área comum de lazer e alimentação e se começa a caminhar pelos corredores que levam ‘as centenas de escritórios do prédio e se vêem pinturas retratando todos os Chiefs of Staff (Comandantes) do Exército na história Americana.
Na verdade, diferentemente do que muitos possam pensar, Pentágono é apenas o nome do prédio - cinco lados, cinco anéis concêntricos, cinco andares e dez corredores -, e não o nome de um departamento ou entidade militar Americana. O grande complexo abriga 23 mil empregados permanentes, mais o mesmo número de visitantes por dia (representantes do Governo, oficiais militares, dignitários, entre outros).
Ninguém de uniforme camuflado nas portas de entrada, onde se passa por rigorosa identificação, inspeção, detectores de metais e raios-X. A Polícia do Pentágono não é militar e usa camisa cinza e calças pretas. Quase todos os agentes são negros - 60% da população de Washington era de negros em 2000.
A segurança é civil porque, apesar de abrigar a cúpula militar dos EUA, o prédio não é uma instalação militar, mas civil: pertence ‘a Secretaria de Defesa dos Estados Unidos, ‘a qual estão subordinadas as quatro forças armadas. Pois é, mais uma diferença em relação aos militares brasileiros. Nos EUA, os fuzileiros navais - os famosos e temidos Marines - constituem uma força ’a parte da Marinha, e tem comandante próprio, no mesmo nível do comandante da Marinha, e não subordinado a ele, embora parte do treinamento e da escola de formação seja conjunta. É no terceiro ano de estudos que os cadetes optam por seguir no Corpo de Fuzileiros Navais ou na Marinha.
Foi justamente a área de escritórios da Marinha no Pentágono a atingida pelo ataque suicida-terrorista de um avião de carreira na manhã de 11 de setembro de 2001, que matou 184 pessoas - afora os cinco terroristas, que não contam para as estatísticas americanas. Aproximadamente 20% da estrutura do prédio foi afetada. Um pouco de sorte evitou uma tragédia maior: apenas dois escritórios da Marinha estavam functionando e exatamente essa parte do prédio havia sido reforçada com aço meses antes. O avião bateu no chão antes de atingir o Pentágono, o que fez com que perdesse metade da velocidade e do poder de destruição. Ainda assim, se tivesse atingido outra ala, estima-se que teria atravessado alguns dos anéis internos e causado milhares de mortes.
O ataque aconteceu exatamente na data de aniversário de 60 anos da inauguração do Pentágono, em 1941, depois de 16 meses de construção.

 

Na redação do Washington Post

1. Filosofia
"May all your efforts bear fruit, may all your opinions carry weight."
("Que todos os seus esforços dêem frutos, que todas as suas opiniões tenham peso.")
Cartazes ao lado de uma cesta de uvas.
2. Brazil??
Um mapa-múndi de 7m de largura por 3m de altura está na parede do hall dos elevadores no andar da redação, o quinto do prédio simples e ordinário na 15th Street. Lá estão marcados todos os lugares no planeta onde o Post tem escritórios ou correspondentes (22 no exterior). O único na América do Sul fica em... Buenos Aires. O correspondente é americano. Está aprendendo espanhol e não fala português. O subeditor de Internacional, Peter Eisner - que morou no Brasil por 3 anos, fala bem português e me convidou para um almoço na cafeteria do jornal dois dias depois -, também considera um erro grave. Entre os vários relógios com os diferentes fusos do mundo, na editoria de Internacional, as horas na Cidade do México, Bogotá, Lima (+1), Londres, Casablanca (-1), Bagdá, Moscou, Dubai, Islamabad... Nada de Brasil.
3. Pimenta nos olhos dos outros é refresco
Uma promoção de publicidade dos classificados do jornal mostrava a foto de pessoas comuns, com os dizeres: "Consegui meu emprego por causa do Washington Post."
Na sala de reuniões de pauta do Post, um cartaz mostra a foto do presidente Gerald Ford, vice de Richard Nixon, que assumiu com a renúncia do titular, em agosto de 1974, por causa do Watergate. "Consegui meu emprego por causa do Washington Post."
O presidente Ford autografou o quadro. "Ele tinha ótimo senso de humor", disse o editor do Post, James Rowe. Como seria o quadro de Nixon? "Perdi meu emprego por causa do Washington Post"?
4. Tradição
A sala de reuniões do Washington Post tem alguns rituais. São 11 cadeiras ao redor da mesa, e sofás e poltronas ao redor. Cada editoria tem a sua cadeira certa na arrumação da mesa - o editor-executivo na cabeceira -, e em todas as reuniões a ordem de quem fala é sempre a mesma, ao longo de anos e anos: Nacional, Internacional, Metro (Cidade), Economia, Estilo, Esportes, Fotografia e Arte.
No dia em que eu e três fellows voltamos 'a redação para almoçar com Eisner e Rowe, havia 35 pessoas na sala, sem contar a gente. Nove negros na sala, três 'a mesa. No dia seguinte, a Nacional teria 27 páginas; a Metro, 17, e a Financial, 9. Perdi o resto.
5. Nixon Resigns
É também nesta sala que está emoldurada, em bloco de bronze (?) usado para imprimi-la, a página da queda de Richard Nixon, em agosto de 1974 (foto abaixo). "Nixon renuncia", diz a manchete. A assinatura não é de Bob Woodward e Carl Bernstein, mas da repórter que cobria a Casa Branca, Carroll Kilpatrick (Matéria está em http://www.washingtonpost.com/wp-srv/national/longterm/watergate/articles/080974-3.htm).

terça-feira, setembro 27, 2005

 

A História é escrita pelos vencedores


"Sometimes I have succeeded and sometimes I have failed, but always I have taken heart from what Theodore Roosevelt once said about the man in the arena, "whose face is marred by dust and sweat and blood, who strives valiantly, who errs and comes short again and again because there is not effort without error and shortcoming, but who does actually strive to do the deed, who knows the great enthusiasms, the great devotions, who spends himself in a worthy cause, who at the best knows in the end the triumphs of high achievements and who at the worst, if he fails, at least fails while daring greatly."
(Trecho do discurso de renúncia de Nixon, em 8 de Agosto de 1974).
Discurso completo em http://www.luminet.net/~tgort/resign.htm
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São as boas histórias que importam

O vice-presidente de Notícias e editor-executivo da National Public Radio, Bill Marimow é um apaixonado pela reportagem e o editor que todos gostaríamos de ter. Repórter brilhante, venceu dois Pulitzers (Serviço Público, em 1978 - revelou tortura de presos por detetives -, e Reportagem Investigativa, em 1985 - mostrou que policiais da Filadélfia ordenavam aos seus cães que atacassem pessoas inocentes e desarmadas). Como editor do Baltimore Sun, venceu diversos Pulitzer por Reportagem Investigativa, Beat Reporting e Feature Writing.
"Títulos são irrelevantes. O que importa é uma boa história. Keep your eyes on the ball."
Aos 57 anos, Marimow trabalhou na imprensa escrita por 34. Está em rádio há um ano e meio. Passou 21 anos no Philadelphia Inquirer, 15 como repórter e depois como editor de diversas áreas. Saiu para ser editor-executivo do Baltimore Sun, por seis anos, e depois, editor-chefe, em 2000.
Formou-se pelo Trinity College e recebeu foi um Nieman Fellow em Harvard, onde estudou a 1a Emenda na Faculdade de Direito, em 1982-1983.
Outras dicas de Marimow:
1. Acredito no sistema de setoristas, no qual o repórter tem total responsabilidade por sua área, seja o Pentágono, Medicina ou Ciência. Na maioria das vezes, se trabalhar duro, ele será capaz de informar o editor do que está acontecendo e o que fazer. O editor não tem de dizer o repórter o que fazer, mas tem de priorizar a orientação em reportagens. Quando repórteres esperam instruções acaba a ambição.
2. É preciso diminuir a burocracia. O trabalho de editores é dar tempo, recursos financeiros, orientação jornalística e editorial e espaço no jornal.
Nossa tarefa é ajudar a diminuir a distância entre o que o repórter é e o seu potencial.
Nem todos serão número 1. Um sempre vai ser o melhor, e outro vai ser sempre o número 200, mas temos de ajudar as pessoas a serem tão boas quanto podem ser, apoiá-las e ajudá-las a satisfazer os seus sonhos. Temos de lhes dar latitude, orientação e encorajá-las. É como um técnico de um time, que consegue levar seus atletas a jogar em um nível acima. É o tipo de qualidade que um editor-chefe precisa ter para comandar um jornal.

 

Um assassino no WPI

Nem só de Lucas Mendes, Caio Blinder e Raphael Gomide vive o World Press Institute.
Os bolsistas não são sempre gente pacifica. Descobri em Washington que um famoso assassino assassino também desfrutou da bolsa.
Foi Antônio Pimenta Neves, ex-diretor de Redação do Estadao, aquele que assassinou a tiros a ex-namorada que carrega meu sobrenome - embora não seja parente -, Sandra Gomide, em 2000!
Pimenta Neves participou do programa e depois voltou aos Estados Unidos como correspondente da Folha e de outras publicações. Trabalhou anos para o Banco Mundial e conhece muitas pessoas em Washington. O editor de domingo do Washington Post e membro do board de diretores do WPI é um deles. "Era uma pessoa tranquila e sofisticada. Morou muitos anos aqui, casou-se com uma americana, trabalhou no World Bank e tem duas filhas adoráveis. Ha muitos ex-bolsistas bem-sucedidos, mas ele estava no topo. Trabalhou para o Wall Street Journal do Brasil (Gazeta Mercantil) e dirigia um dos maiores jornais do país. Não se sabe o que aconteceu. Mas o fato é que o WPI tem um assassino entre seus ex-alunos."

segunda-feira, setembro 26, 2005

 

Búzios em grande escala

Estou em Miami e, acredite, estou achando maneiro! Surpreendente, tendo em vista os preconceitos. A cidade, um resort, é viva e bonita, tipo uma grande Búzios. Me lembra um pouco o Rio. Sim, realmente parece com a Barra, em algumas partes.
E puramente férias nesta área onde estou, Miami Beach. Muita preocupação com as aparências, carrões, ostentação. Só espanhol na rua. Quase todo mundo é bilíngue. A praia é melhor que pensava, água clarinha e azul turqueza! A orla, Ocean Drive, só tem uma pista para ir e outra para vir, o que provoca engarrafamentos aos domingos, enquanto os caras dos carros cantam as mulheres sentadas nos bares da calçada.
Nas boates, dançarinas-bartender todas com micro-roupas-apertadissimas-enfiadas-em-todos-os-lugares-estilo-puta dançam como... Depois falam do Rio.

sábado, setembro 24, 2005

 

As cores


Não me pergunte o nome do autor do quadro - erro de apuração. Estava no Smithsonian Museum.
James Smithson (1765-1829) era um cientista inglês e nunca veio aos EUA, mas deixou uma fortuna como herança para construir museus em Washington D.C. e estimular pesquisa e produção de conhecimento . É o maior complexo de museus dos EUA, todos gratuitos.
Foi lá também que vi esse pensamento do italiano Giorgio Morandi, que NÃO é o autor do quadro:
"I am essentially a painter of the kind of still-life composition that communicates a sense of tranquility and privacy, moods which I have always valued above all else. Nothing is more alien to me than an art which sets out to serve other purposes than those implied in the work of art itself. Nothing can be more abstract than, more unreal than what we actually see. We know that all we can see of the objective world, as human beings never really exists as we understand it. Matter exists, of course, but has no intrinsic meaning of its own, such as the meanings that we attach to it. Only we can know that a cup is a cup, that a tree is a tree."
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O melhor cadeado possível


Bicicleta da Polícia na porta do hotel, presa pelas algemas, um dia depois do roubo
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sexta-feira, setembro 23, 2005

 

Honest (and Religious) Abe Lincoln



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O pai de Bush está no Lincoln Memorial

O discurso da segunda posse do republicano Abraham Lincoln como presidente dos Estados Unidos, em 4 de março de 1865, está na parede 'a esquerda da estátua, no grandioso memorial que leva o seu nome e se assemelha ao Parthenon. Só dois textos foram escolhidos para as paredes laterais do monumento: o outro é o Gettysburg Address (1863), a mais famosa de suas falas - era decorado pelos alunos de colégios americanos nos anos 60 e 70.
O Second Inaugural Address fala um pouco de tudo - guerra, escravidão (foi lido na posse, pouco mais de um mês antes do fim da Guerra Civil e da abolição, que ele defendeu) - e muito de Deus. Há ao menos 14 citações ou referências a Deus e citações bíblicas.
Poderia ter sido escrito pelo atual presidente, George W. Bush, também republicano.
May God bless America.

Leia o texto completo dos discursos:
http://showcase.netins.net/web/creative/lincoln/speeches/inaug2.htm
Gettysburg Address: http://usinfo.state.gov/usa/infousa/facts/democrac/25.htm

quinta-feira, setembro 22, 2005

 

Novidade do Banco Mundial: Corrupção "astravanca" o "pogresso"

RAPHAEL GOMIDE
DE WASHINGTON D.C.
Enquanto o Brasil enfrenta a maior crise política no governo Lula por causa de corrupção, o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, atacou ontem, em Washington, a prática como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento e 'a redução das desigualdades nos países pobres. O ex-subsecretário de Defesa do governo George W. Bush falou em termos gerais e não citou o Brasil ou nenhum país como exemplo, na sede do FMI, onde concedeu a primeira entrevista coletiva desde que assumiu a direção do banco, em julho. Wolfowitz disse que a corrupção é via de mão-dupla. "Não é responsabilidade apenas da liderança nacional nos países em desenvolvimento. Porque para cada pessoa que aceita propina há alguém que paga a propina - frequentemente de um país desenvolvido."
O presidente do Banco Mundial lembrou e reiterou a metáfora criada por seu antecessor no cargo, Jim Wolfenson, que chamou a corrupção de "câncer" e pôs a questão na agenda de discussões da instituição e de seus parceiros. Apesar das críticas, o executivo vê avanços no combate 'a prática.
Um relatório sobre desigualdade do banco foi apresentado terça-feira, reafirmando as Metas de Desenvolvimento do Milênio, acordo assinado pelos 184 países-membros, prometendo diminuir 'a metade a pobreza no mundo até 2015. Os técnicos da instituição ligada 'a Organização das Nações Unidas, acreditam que o objetivo será atingido, principalmente pelos grandes avanços recentes de China e Índia, ambas pobres e altamente populosas.
"Desenvolvimento é um esporte em equipe, temos de jogar em todas as posições e o campo precisa estar todo ocupado: nem todos podem ser artilheiros, alguns tem de ser os goleitos. Temos contas a prestar e o desenvolvimento é nossa prioridade. Estamos em um momento muito importante da história da luta para erradicar a pobreza e criar oportunidades. Não é questão de ajudar os pobres porque eles merecem, mas também porque é bom investimento no desenvolvimento futuro do país", afirmou Wolfowitz.
2005 é o ano do Desenvolvimento, razão pela qual a ONU e o BM lançaram documentos sobre o tema e Desigualdade no mundo. A reunião dos líderes mundiais na ONU, em Nova Iorque, semana passada, também teve os dois temas como principais pontos de discussão. O cancelamento da dívida externa de países pobres e a duplicação dos investimentos na África fazem parte desse esforço apoiado pelo Banco Mundial. A prioridade do Banco é a África Subsaariana, que concentra 800 milhões de pessoas na área mais pobre do planeta, e teve um plano de ações criado exclusivamente para a região. A instituição alega ser o maior fornecedor de fundos para países aplicarem em Saúde, Educação, Meio-Ambiente e combate 'a Aids.
(Matéria enviada ao DIA em 22 de Setembro)

 

Paranóia


Mensagem no metrô de Washington D.C.
Em caso de emergência, ............... (não chute esta resposta!)
Para se preparar para uma catástrofe natural ou ataque terrorista, bastam alguns passos:
1. Ter um plano de emergência, para que saiba como encontrar sua família. Escreva-o.
2. Mantenha um galão de água por pessoa e tenha comida não-perecível em casa.
3. Mantenha uma bateria carregada, lanterna e kit de primeiros-socorros.
Esteja pronto. Tenha um plano. Faz a diferença.

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Troféu


"Bush at War" com autógrafo do Bob Woodward, o autor. O repórter investigativo do Washington Post Scott Higham também pediu para Woodward assinar seu exemplar de "Todos os Homens do Presidente"
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Assalto!


Chegamos ao hotel agora 'a noite, carro de polícia, sirene ligada, rua sendo isolada com fita amarela e preta e tudo. Cena de filme. Policiais de bermuda e camiseta, quase ninguém uniformizado, pistolas na cintura. "Secret service", anunciou um negão com telefone na mão. E entrou na área isolada. Eu devia ter feito a mesma coisa.
Tentativa de roubo 'a mão armada.
Terríveis esses lugares violentos...(Ficamos por uma hora e meia no hotel do lado, da mesma rede). Polícia acaba de bater aqui na porta do quarto. "Só para saber se está tudo OK!"

quarta-feira, setembro 21, 2005

 

It's over, Bob!

Conheci o mito, almocei com ele, fiz perguntas e ele respondeu.
O ícone do jornalismo investigativo em questão é Bob Woodward, repórter e editor-executivo-assistente do Washington Post: o homem que, ao lado de Carl Bernstein, derrubou o presidente dos EUA Richard Nixon, em agosto de 1974, depois de mais de um ano de matérias sobre o caso que ficou conhecido como Watergate. A história foi registrada em livro e em filme - com Robert Redford e Dustin Hoffman - sob o nome de "Todos os Homens do Presidente", e é talvez o caso mais clássico e bem-sucedido de investigação da história do jornalismo.
Bob Woodward poderia ser um dos grandes nomes do passado, mas não. Escreveu dez livros, oito dos quais foram o número 1 em vendas no país, e continuou a atuar como repórter em todos eles. Li Os Comandantes, excelente retrato da formação da equipe de guerra do Bush pai - quase a mesma do filho: Rumsfeld, Cheney, Powell, Wolfowitz -para a guerra do Golfo. Ele descreve os bastidores de todas as reuniões e decisões de cúpula com precisão impressionante e riqueza de detalhes relevantes, como se estivesse na cabelça dos personagens. Woodward explica nos livros parte da sua apuração.
Os dois últimos sucessos são Bush at War e Plan of Attack, sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque.
O jovem oficial da Marinha resolveu virar repórter, talvez em parte por influência de um senhor alto, esguio e elegante que um dia cruzou com ele em uma sala da Casa Branca, e lhe concedeu alguns minutos de atenção e o cartão de visitas. Era do FBI. Chamava-se Mark Felt. Pode chamá-lo de Deep Throat, Garganta Profunda.
Woodward não sabia então, mas esse homem mudaria sua vida.
Seria anos depois, como vice-diretor do FBI, peça-chave na montagem do quebra-cabeças do Washington Post que levou 'a renúncia de Nixon, após demonstrada a participação dos principais assessores presidenciais num esquema de espionagem e sabotagem dos Democratas pelos Republicanos de Nixon, nas eleições presidenciais.
O segredo da verdadeira identidade do Deep Throat foi guardado por três pessoas por mais de 30 anos: Woodward, Bernstein e Ben Bradley, editor do Post de 1965 a 1991.
No dia da revelação, os três se encontraram na sede do jornal, em Washington DC e se deram um longo e emocionado abraço.
Há alguns meses, aos 91 anos, Deep Throat resolveu dizer que foi ele, mas não ao Washington Post. Woodward jura que não ficou bravo. "Fiquei surpreso, não preciso nem dizer, e preocupado se tinha sido realmente ele ou a família que fez ele dizer isso. Um editor veio até mim, me segurou pelo pescoço e disse: Acabou, Bob!"

segunda-feira, setembro 19, 2005

 

Reinventing Aging: Baby Boomers de ontem são voluntários de hoje - Tradição americana vira programa de Harvard

Não é só no Brasil que idosos se sentem abandonados e discriminados ao se aposentar. Nos Estados Unidos, terra do trabalho e "da oportunidade", eles também reclamam da solidão e enfrentam preconceitos. Para combater tabus e aproveitar o talento e a experiência acumulada, a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard - a mais antiga (1636) e prestigiada do País -, e a Fundação Metlife criaram o programa "Reinventando a Idade", que estimula o voluntariado na 3a idade e pretende dar um sentido de engajamento cívico 'a nova fase da vida dos "jovens" aposentados.
O projeto poderia servir de estímulo para iniciativas semelhantes no Brasil.
"Queremos fortalecer a participação social, mobilizando os talentos dessas pessoas, e redefinir o significado da aposentadoria. Eles poderão ser uma fonte social de proporção nunca vista se participarem ativamente na vida da comunidade", explica Susan Moses, diretora-adjunta da Escola de Saúde Pública de Harvard e uma das idealizadoras do Reinventando a Idade.
A pressa é grande, porque se trata da geração do "Baby boom" - (explosão de bebês), grande salto dos índices de natalidade no pós-guerra, entre 1946 e 1964). Os bebês de 1946 serão sexagenários ano que vem. São 77 milhões de "baby boomers", como são chamados, quase a metade da população brasileira, estimada em 175 milhões.
A prática de doar o tempo para ajudar outras pessoas faz parte da tradição social norte-americana, é obrigatória em algumas empresas, está no currículo de colégios e universidades, e pode ser fator decisivo em processos de seleção profissional, mas pesquisas mostram que há diminuição do voluntariado entre aposentados.
A evolução da medicina, da tecnologia e as mudanças no mercado de trabalho elevaram a idade de aposentadoria no Brasil e no mundo. Nos EUA, não há mais idade pré-definida, e a força ativa envelheceu. A aposentadoria já não significa parar de trabalhar totalmente; muitos adotam meio-expediente ou logo voltam ao mercado - formal ou não - para complementar a renda.
Segundo Susan Moses, o voluntariado tem forte impacto positivo tanto psicológico quanto físico e eleva a auto-estima, além de promover relações sociais - fator que os aposentados sentem falta. "Mais pessoas são voluntárias enquanto ainda estão trabalhando do que quando se aposentam."
As formas mais comuns de trabalho voluntário nos EUA são em escolas, igrejas, para ajudar jovens e idosos. Pesquisa do Censo dos EUA mostra que um terço dos americanos entre 21 e 24 anos exercem algum tipo de atividade voluntária; 41% das pessoas entre 25 e 34 anos, metade dos que têm entre 35 e 54 anos. O número começa a cair entre 55 e 64 anos (43%); e vai decrescendo com o aumento da idade - 41% entre 65 e 74 e 39% acima de 74 anos. É esse público que o programa Reinventando a Idade quer atingir.
Aumentar sua participação social e melhorar a vida deles e dos que precisam deles. Pode funcionar nos EUA, pode funcionar no Brasil.
(Matéria enviada ao DIA na madrugada do dia 19 de setembro)

Página do Programa e Cópia do Relatório: http://www.hsph.harvard.edu/chc/reinventingaging/

HOLLYWOOD E TV SERÃO ALIADOS
O programa "Reinventando a Idade" vai usar Hollywood e as populares séries de TV, a partir de janeiro do ano que vem, para ajudar a conscientizar os futuros aposentados a usar seus talentos em prol da sociedade e de si mesmos, como voluntários. Ao mesmo tempo, a idéia é valorizar o idoso e o conceito de que podem ser muito úteis, ajudar e ensinar, a partir de sua experiência.
As indústrias do cinema e da TV - influentes nacionalmente e exportados para todo o mundo - vão colaborar inserindo mershandisings onde pessoas comentarão sobre o projeto ou a idéia indireta e naturalmente, como as propagandas camufladas de produtos. Portanto, não se surpreenda se vir uma referência ao programa durante um filme ou seriado na TV a cabo. As redes de TV também vão ceder espaço gratuitamente para a veiculação de publicidade sobre a campanha. O slogan vai ser: "Divida o seu conhecimento. Torne-se um mentor".
A estratégia vai ser semelhante a uma bem-sucedida campanha de conscientização social nos Estados Unidos, nos anos 80: a do motorista designado. Na época, o objetivo era reduzir os acidentes de trânsito e evitar que as pessoas dirigissem depois de beber. O "motorista designado" foi um conceito importado da Escandinávia, segundo o qual quando um casal ou grupo fosse sair, antes de começarem a beber, uma pessoa seria designada a motorista e não poderia beber, para conduzir as outras com segurança até em casa. Deu certo e a idéia pegou. Conjugada com outras políticas na época, como a redução dos limites de velocidade e aumento da idade permitida para beber, houve redução de 25% nos acidentes três anos depois do início da campanha. Hoje, é uma prática natural entre americanos.

DESAFIO É CRIAR INFRA-ESTRUTURA
Pode parecer confortável para uma ONG ou fundação ter mão-de-obra gratuita e qualificada, mas o que 'a primeira vista é solução pode se tornar um problema. O voluntário muitas vezes acaba não saindo de graça, porque ocasiona alguns gastos e em geral precisa ser treinado e orientado adequadamente.
"A rede de entidades está totalmente despreparada, focada no dia-a-dia, tem restrições financeiras, e os voluntários não são uma prioridade. As organizações precisam se requalificar para atrair e manter esses voluntários, que são exigentes e querem tarefas criativas e que lhes demande esforço ativo e interessante", diz Susan Moses. O programa faz uma série de recomendações a políticos, ONGs, governos, empresas e financiadores de iniciativas de vountariado, como pensar criativamente como usar os aposentados e oferecer um amplo leque de oportunidades a eles.
"Há enormes fontes de conhecimento sobre as quais essas pessoas estão sentadas. Há executivos de grandes empresas que se aposentam e passam a atuar como consultores de negócios para ONGs e fundações que não teriam como pagar por seus serviços. O que poderia ser melhor?", pergunta ela.

Perfil dos Baby Boomers
25%-30% são fumantes x 50% em 1965
40% são obesos x 26% em 1965
Só 3 em cada 10 fazem exercícios físicos regularmente
A expectativa de vida deles é de 83 anos. Muitos vão passar dos 90.
Independentes
Alta escolaridade
(PUBLICADO NO O DIA, EM 30 DE OUTUBRO DE 2005)

domingo, setembro 18, 2005

 

White House


Na Casa Branca

 

Trem pras estrelas


Chegada a Massachusets

sexta-feira, setembro 16, 2005

 

Azares e sortes

Pensei que era idiossincrasia da Carlson Company (dona de rede de hotéis, cruzeiros e do TGI Fridays), em Minnesota, não ter o 13o andar em sua mega-sede. Pula do 12o pra o 14o.
Mas descobri que o hotel onde estou, em Cambridge, Mass, também não tem apartamentos número 13 nos andares. E soube que muitos prédios e hotéis aqui nos EUA temem o 13.
Por outro lado, descobri que pisar em um cent dá sorte, de verdade. Aconteceu comigo. Pisei sem perceber. A moça sentada no banco me disse que tinha de pegar a moeda. Voltei para o hotel e tive uma boa notícia. Em seguida, pisei no cocô. Era sorte mesmo.

 

Por que os americanos são tão religiosos? E Bush, o "evangélico renascido"

92% dos americanos acreditam em God: pesquisa do Gallup, diz o professor de Religião Richard Perkins, de Harvard. A Bill of Rights, parte principal da constituição deles, garante a liberdade de religião e proíbe a relação Estado-Religião, motivo de boa parte da migração européia para cá - fugir da perseguição religiosa.
A religião é uma parte portátil da cultura e garante uma comunidade com os mesmos interesses, língua, reconforto e possibilidades de casamento. A exploração do oeste hostil - no século 19 -, com o consequente isolamento, foi outro importante fator de fortalecimento da religião como agregadora. Hoje, isso ainda é verdade. Eles se mudam de lugar para lugar: é tão difícil achar um americano que seja da cidade onde vive quanto achar um cujos ancestrais até a 3a geração sejam americanos. A igreja continua a ser o lugar onde se apegam e mantêm raízes, onde encontram pessoas semelhantes e têm vida social, e são bem-recebidos, mesmo onde nunca viveram.
85% da população é cristã, mas, curiosamente, o maior grupo isoladamente é o dos católicos, 25% (adiciono depois dados completos da aula do Macalester).
Não se engane, os americanos são protestantes, 60%. "Os protestantes dominaram o país de 1820 a 1960, sua cultura, universidades, e foram ocoração das reformas liberais que mudaram o capitalismo", diz Perkins.
E por muitos anos, até as décadas de 50-60, discriminaram fortemente os católicos, apesar da constituição. "Os católicos eram os inimigos, eram a pior coisa do mundo", disse-me uma luterana de meia-idade. "Acabava que os judeus e os católicos eram amigos, no mesmo barco", completou um judeu.
O nordeste é protestante e liberal, democrata. O sul é cristão, batista - Bible Belt -, republicano, hoje. Os católicos são levemente republicanos, o que muda entre os latinos, 75% democratas.
Perkins explicou a mudança no comportamento político dos brancos sulistas, antes democratas, por conta do ressentimento contra o republicano Abraham Lincoln, que lideou o norte; com o apoio de JFKennedy e Lyndon Johnsonn ao Civil Rights' Movement - igualdade entre brancos e negros, que eram oficialmente segregados - nos anos 60, eles se sentiram ameaçados e se voltaram contra os democratas. Foi e é uma posição contra a ação afirmativa, que atacam ainda hoje. O sul, conservador, ainda é visto com preconceito pelos nortistas. Libertou os escravos, mas nunca se desenvolveu, e acredita ser preterido pelo comando central. A diferença de renda é de 50%.
O fortalecimento dos fundamentalistas cristãos de direita, grupo que defende o Intelligent Design (O mundo foi criado por Deus, e a teoria da Evolução, de Darwin, não serve para nada), se deu a partir dos anos 80, com a ascensão de nomes como Pat Robertson - o que defendeu o assassinato do presidente venezuelano Hugo Chávez há três semanas - e Jerry Falwell, dando origem depois 'a Christian Coalition, que apóia George W. Bush.
Bush se diz um envangélico, renascido.

 

Vidas Secas


Homenagem da Irlanda aos seus cidadãos que emigraram aos EUA por conta da fome, na década de 1840. A maioria era católica. "Que nunca mais um povo passe fome em um mundo de fartura."
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Catolicismo em declínio e tensão

Pontos levantados por Perlings, mainline christian:
1. De 70 milhões de católicos nos EUA, só 6 mil estão estudando para se tornar padres.
2. Havia dez vezes mais seminaristas nos anos 60 do que há hoje.
3. A idade média dos padres americanos é de 65 anos.
4. Por que não ter mulheres-padres?
5. Catolicismo global: A parte liberal da Igreja Católica está perdendo espaço. O Vaticano está em busca de uma visão moral conservadora teologicamente e visão política liberal.

quinta-feira, setembro 15, 2005

 

Óculos Escuros


Daniel e eu no Cinema 3D do Museu de Ciências de Boston
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Aquarius


No Aquarium, Boston

quarta-feira, setembro 14, 2005

 

M.I.T. deixa qualquer um complexado

Estivemos hoje no media Lab do MIT (Massachusets Institute of Technology), Cambridge. Fascinante.
É um dos mais importantes centros de pesquisa no mundo, responsável pelo desenvolvimento do projeto do lap top de US$ 100 - o Brasil está interessadíssimo e lidera grupo de países que podem se beneficiar. O governo federal quer implementar o projeto, cujo protótipo está em fase final de desenvolvimento e deve estar pronto em novembro. A idéia é distribuir nas escolas computadores a TODOS OS ALUNOS da rede pública. "Será uma revolução no ensino e na forma de aprender", diz o diretor do Media Lab, Walter Bender.
Outro projeto é um dispositivo que identifica pelo tom de voz o grau de interação e interesse de uma pessoa pela outra. Serviria para paquera, adolescentes, etc. Os testes acertaram em 80% das vezes se a pessoa ganharia aumento ou não pelo tom da conversa nos 3 primeiros minutos com o chefe - técnicas aprendidas em escolas de business acertam em 20% das vezes. O mesmo conceito é aplicado a celulares, que dizem ao fim da conversa se o seu tom foi adequado ou não - como se o marido prestou atenção adequada ao que a mulher disse...
Os celulares também identificam se há amigos seus - com o mesmo aparato - juntos em algum lugar, para que vc possa se unir a eles. Lá também foi inventado o despertador "Clocky", que foge dos tapas do dono, de manhã e cada dia aparece num lugar, o que faz o dono ter de levantar para desligá-lo.
Parece um imenso laboratório do Professor Pardal.
E a gente não se sente muito inteligente.

segunda-feira, setembro 12, 2005

 

Gareth Cook, só a cara é de bobo


Gareth Cook speaks to colleagues in the Boston Globe news room after he learned he won a Pulitzer Prize for explanatory reporting, Gareth reporting detailed the complex scientific and ethical dimensions of stem-cell research. (AP Photo/Michael Dwyer)

 

Bancos de Dados

Estivemos hoje no Boston Globe, onde falamos com outro vencedor do
Pulitzer, Gareth Cook (Explanatory Reporting, Ciência, sobre células-tronco) e com
um repórter especial, Bill Deadman, ex-diretor da IRE. O que vejo aqui é que os
repórteres investigativos (nome que usam para repórteres especiais) criam bases de dados excepcionais para as matérias. Todos os jornais grandes aqui têm equipes de investigação.
Muito interessante ver como eles põem tudo em tabelas e usam ferramentas e programas de computador. E claro, e têm meses e meses para fazer uma história. O de Deadman é sobre bombeiros que demoram mais tempo hj para chegar aos incêndios - o tempo ideal é 6 minutos. Mostrou que tanto as pessoas se prejudicam, como mais bombeiros morrem mais, para salvar patrimônio, não vidas. Pensei em uma série de possibilidades de matérias a partir de bancos de dados. Mas é preciso tempo.

domingo, setembro 11, 2005

 

Manhattan Connection


Com Lucas Mendes, Times Square ao fundo

 

A simplicidade de Lucas Mendes

Quando soube que tinha ganhado a bolsa do World Press Institute, escrevi para Lucas Mendes e Caio Blinder, do Manhattan Connection, jornalistas que admiro e ex-bolsistas (68-69 e 85) do mesmo programa, hoje vivendo em NY. Bons tempos de vacas gordas, passaram quase um ano nos EUA, viajando por 32 estados e estagiando em jornais e revistas por 2 ou 3 semanas. Os dois foram uma simpatia. "Contamos com você. Parabéns e bem-vendo 'a tribo. O WPI foi uma das melhores experiências da minha vida. Grande abraço, Lucas." Caio Blinder foi no mesmo tom e deu os telefones.
Acompanhei a gravação do programa, sexta-feira, 11h30, no prédio da Agência Reuters, na 42nd, onde eles têm escritório e alugam sala e equipamento. Blinder teve de correr atrás do Severino Cavalcanti - não pude, nao tinha credencial da ONU - Bati um papo animado com Lucas. Cara simples e bacana, também tenista. "Pô, você tinha de ter me falado que jogava, e deveria ter sido menos modesto, tinha que ter ligado, nao podia ter deixado o Caio fazer o meio-de-campo..."
Ele me contou que só participou da bolsa porque Nilo Martins foi mandado de volta ao Brasil por causa das atividades guerrilheiras do irmão, o jornalista Franklin Martins, que participaria do sequestro do embaixador americano, Charles Elbrick, em setembro do ano seguinte. Lucas tinha 24 anos e nunca mais voltou ao Brasil.
Ficou como correspondente da Manchete - trabalhava antes para a Fatos e Fotos -, depois da TV Globo e criou o Manhattan Connection no comeco dos anos 90.
Contou como aprendeu a jogar tênis junto com Pelé, de quem foi muito amigo, quando jogava no Cosmos, nos anos 70. "Pelé, com aquelas pernas e talento para esporte, aprendeu rapidinho. O duro era perder. Tinha que pagar um chope e cantar que o Pelé é o melhor..." Hoje joga 5 vezes por semana, em "bolhas" de ar, abrigos criados como hospitais para a Guerra Civil (1861-1865), depois para as duas Grandes Guerras, adaptados para quadras de tênis.

P.S.: Angélica, produtora que nunca aparece no ar, existe, e é muito simpática.
P.S.2: O livro de Lucas Mendes, Conexao Manhattan, compilação de artigos dele para a Revista da Imprensa, é excelente. Ele também escreve para a BBC Brasil, como Caio Blinder. O segundo livro, "Manhattan, Reconexões", näo vendeu bem, embora considere melhor.
p.s.3: Resposta de Lucas a e-mail que mandei com nossa foto. "Belo sorriso. Vou pintar meu cabelo." Figura.

sexta-feira, setembro 09, 2005

 

"É preciso cultivar nosso jardim", Voltaire

Ontem encontrei o melhor emprego do mundo. Hoje descobri o melhor lugar do mundo para se trabalhar: Reader's Digest.
Não, nada de reportagem investigativa, hard news, furos. A revista mais internacional do mundo, mais água-com-açúcar e veja-o-lado-bom-da-coisa, tem 46 edições em 16 línguas diferentes vende 20 milhões de "America in your pocket" (é pequenininha) por mês - 400 mil no Brasil.
A sede da Reader's Digest é um sítio idílico, em um subúrbio rico, caro e distante de NY (45 minutos de trem), Chapequa, onde Bill Clinton mora. Parece aquelas universidades na Inglaterra. Paz absoluta, silêncio, gramados intermináveis. Fomos recebidos para almoçar em uma casa estilo vitoriano, de mais de 150 anos, decoração elegante dos americanos da costa leste, móveis bonitos e sólidos - afora os livros falsos em uma estante rotativa arredondada. Nos Estados Unidos, os ricos lembram e imitam os ingleses, inclusive nas casas. Depois vêm, nesta ordem: escoceses, alemães, escandinavos, franceses.
A "redação" fica a uns 500 metros, em uma bela casa de três andares, fachada coberta por eras. Dentro, nada lembra uma redação. Salas espaçosas e individuais, nenhuma baia, ninguém correndo ou gritando. Estilo Reader's Digest.
O melhor: 'as sextas-feiras, o expediente acaba 'as 12h, para cada jornalista poder cuidar do seu jardim particular - como Candide, Voltaire -, cada um tem o seu. "É preciso cultivar nosso jardim".
Boa qualidade de vida, boa filosofia.

 

Quer trabalhar aqui?


A "redação" da Reader's Digest. Que tal?

 

Writer´s Digest


Um dos gramados da Digest

 

Sombra e água fresca


Nada mal

 

A Cara da Vitória


Newark Star-Ledger staffers Josh Margolin, Jeff Whelan, center, and Kate Coscarelli, celebrate winning the 2005 Pulitzer Prize for breaking news reporting, for its coverage of the resignation of former Gov. after Star- (AP Photo/The Star-ledger, Andy Mills)

quinta-feira, setembro 08, 2005

 

Reflexões de Bill Keller, editor do The New York Times

"A maioria dos governos não gosta da imprensa, mas este (George W. Bush) gosta menos ainda."
"A imprensa parou de fazer reportagem, e passou a dar espaço para fofoca, celebridades. Pega um crime menor e o transforma em 1a página, dia após dia."
"A ambição nos distingue (O New York Times)."

 

Walt Bogdanich


PULITZER PRIZE, APRIL 4, 2005 - Pulitzer Prize winner for Investigative Journalism, New York Times reporter Walter Bogdanich makes a speech after his prize is announced in the newsroom of The New York Times. Ozier Muhammad/The New York Times

 

O sonho



 

O melhor emprego do mundo

Walt Bogdanich tem o melhor emprego do mundo: é repórter investigativo do The New York Times. Trabalha em uma unidade especial, com mais uns 7 repórteres especiais, apurando histórias sem pressão de publicar no dia-a-dia. Pode ficar até um ano em uma matéria.
Ele não está onde está 'a toa. Ganhou dois Pulitzers (1989 e 2005), 4 Gerald Loeb Awards (UCLA), um IRE (Investigative Reporters and Editors) e um Overseas Press Club Award. Foi repórter investigativo do Wall Street Journal, antes de ir para o Times, em 2001.
Mas é a humildade em pessoa. Alto, magro, estrábico, Bogdanich tem a barba grisalha por fazer. Anda meio desajeitado e ostenta certa timidez. Não aparenta os 55 anos.
"O segredo para um repórter investigativo é ter paixão e persistência. É um tipo diferente de repórter. Porque muitas portas vão se fechar na sua cara, e não se pode deixar desencorajar por isso, mas, pelo contrário, se sentir motivado. Eu sou um privilegiado por trabalhar em um jornal que investe e acredita em reportagem, porque muitos hoje em dia não acreditam mais, embora seja uma obrigação da imprensa livre. E é caro, requer muitos recursos e muitas vezes você não produz histórias. Meus chefes dizem: Não esperamos matérias diárias."
A Investigations Unit tem sua equipe, mas conta ainda com repórteres "embedded" em outras editorias, que eventualmente atuam ao lado dos de investigação.
"Acredito que faço o jornal melhor, e o jornal me faz parecer melhor". O objetivo, ao apurar uma reportagem é chegar ao ponto em que se pode dizer as coisas "definitivamente", com certeza e segurança do que se está falando, e se chegar a algumas conclusões.
Ele explica, porém, que nem sempre grande jornalismo se reflete em mudanças. "Não se pode ficar frustrado com isso. Mesmo o NYTimes 'as vezes não faz acontecer."
Sobre a transparência do trabalho da imprensa, Bodganich critica quem pensa que a mídia não tem contas a prestar, diferentemente de governos. "Não temos nada a esconder e, se mostrarmos aos leitores como trabalhamos, ganharemos mais credibilidade. Nós queremos que o público acredite em nós e saiba como fazemos as coisas. Eles vão acreditar mais em nós. Gostaríamos de esconder nossos erros, mas não podemos. Tinha um editor do meu jornal em Ohio que fazia a cada duas semanas o "Café com o Editor", quando recebia a comunidade e conversava sobre o jornal. Achava aquilo muito estranho. Hoje vejo que estava 'a frente do tempo."

O material que ganhou o Pulitzer (Morte sobre trilhos)
http://www.nytimes.com/ref/national/deathonthetracks_index.html?

Minibio oficial de Walt Bogdanich
http://www.nytimes.com/ref/national/bogdanich-bio.html
http://64.233.161.104/search?q=cache:1vZOaKcST5AJ:www.uwalumni.com/onwisconsin/Spring00/breaking2.html+walt+bogdanich&hl=pt-BR
A história do filme The insider, com Al Pacino, trata de uma história inicialmente descoberta por ele
http://slate.msn.com/id/1004055/

 

The New York Times, O Maior

Fomos hoje ao maior jornal do mundo. São 1200 no staff e 43 correspondentes efetivos no exterior, afora os freelancers e contratados - só no escritório em Bagdá, são 30 pessoas (entre jornalistas, seguranças e motoristas), que ficam 5 ou 6 semanas, por 3 de folga nos EUA.
E fomos recebidos com pompa e circunstância (?), em uma sala superelegante, para um café da manhã. Pois é, Também ficamos surpresos, e felizes, principalmente após fria na maioria dos lugares aqui em NY.
Estiveram conosco em uma escassa mas produtiva hora ninguém menos que o Editor-Executivo (o chefão), Bill Keller, vencedor do Pulitzer em 1989 (Cobertura da União Soviética); o Ombudsman (Public Editor), Barney Calame; o repórter investigativo Walt Bogdanich, vencedor do Pulitzer deste ano; Susan Chira, editora de Internacional, e Ethan Bronner, sub de Internacional.
"Posso parecer um pouco sentimental, mas considero o NY Times o melhor jornal deste país. Isso porque contrata os melhores repórteres - com 6 ou 7 anos de experiência -, adota um alto padrão de qualidade e tem uma grande ambição, que o distingue dos outros. Temos mais correspondentes que jamais tivemos e nos esforçamos muito para nos sair extremamente bem", explicou Keller.
Todos nos trataram com muita cordialidade, mas naturalidade, sem estrelismo.
A pena foi que a discussão durou apenas uma hora. Pareceu bem mais, pelo menos.
Passamos pelo Pulitzer Hallway, com fotos e artigos dos vencedores do prêmio.
A redação é grande e moderna, mas eles se mudam no início de 2007 para um novo prédio, de 46 andares! Só vão usar parte, o resto vão alugar.
É um lugar meio mágico. Todos nós, jornalistas profissionais, viramos estudantes, fãs, e admiramos tudo o que víamos. Saí rindo feito um bobo.
E sonhando em um dia trabalhar para o The New York Times.

terça-feira, setembro 06, 2005

 

O vazio


Marco Zero, onde ficavam as Torres Gêmeas do World Trade Center. A vista é do Wall Street Journal, no 11o andar do prédio da Dow Jones, dona do tradicional e obviamente conservador diário, onde assistimos a briefing do editorialista e editor de Internacional (edições Europa e Ásia), George Melloan. O Wall Street Journal lança dia 17 sua edição de sábado - eles continuam sem jornal domingo e sem pescoção.

 

A praia


Tomando sol no Central Park

 

1. Jhéck e Terri Schiavo, a morte pede passagem

Se Jeson de Oliveira entrar na Justiça para desligar os aparelhos que mantém vivo o filho Jhéck Breener de Oliveira, de 4 anos - em estado vegetativo -, o Brasil vai viver "um circo da mídia", como no caso Terri Schiavo, prevê o neurologista e professor da Universidade de Minnesota Ronald Cranford. Ele é uma das maiores autoridades mundiais em ética médica e diagnóstico de Estado Vegetativo Permanente (EVP) e seu parecer foi fundamental na decisão da Justiça americana de autorizar a suspensão de alimentação e hidratação de Terri Schiavo, o que resultou em sua morte, em março, após 15 anos de EVP, irreversível, segundo Cranford.
Para Cranford, Jhéck está no estágio final de um processo degenerativo e "o prognóstico de reversão é virtualmente inexistente". "Se eu fosse consultado, teria um dilema terrível porque iria querer respeitar a mãe, ainda que ela esteja completamente equivocada sobre a real situação do filho. Não passaria por cima de suas objeções, principalmente porque o menino não está sofrendo. Tentaria
insistentemente unir os pais, mostrar 'a mãe que não há esperança, e então trabalhar com os pais por uma solução de consenso, se possível", disse. Cranford reconhece, porém, que provavelmente, a mãe nunca mudaria de opinião e que a Justiça tem mais dificuldade em decidir quando há opiniões contrárias na família.
O neurologista sabe do que está falando. Durante meses, sofreu pressão da família de Terri e de entidades religiosas e grupos pró-vida, por ter avaliado que o estado da americana era irreversível. "A família de Terri me odeia com paixão, tanto quanto é possível se odiar alguém", lamenta ele, que foi consultado pelo marido de Terri, Mike - que defendia o desligamento dos aparelhos.
Em sua opinião, no caso de Terri Schiavo, a mídia - principalmente televisiva - foi sensacionalista e deixou de mostrar a verdade. Ele criticou os políticos americanos, inclusive o presidente George W.Bush, que se contestaram a decisão da Justiça. "Não há nenhuma razão para o presidente e congressistas se envolverem. Eles se passaram por completos idiotas. Fiquei chocado, porque eles não tinham a menor idéia do que estavam falando. Espero que os políticos do Brasil não cometam o mesmo erro".

Ronald Cranford afirmou que a OAB está duas ou três décadas "atrasada" em relação a outros países, que já passaram por dilemas relativos a eutanásia desde os anos 1970. Ele citou o caso de Karen Quinlan, em 1975, quando também atuou.
A vice-presidente da OAB(-RJ??), Carmen Fontenelle, afirmou que a Constituição Federal garante "o direito 'a vida em qualquer circunstância". "O Brasil está provavelmente em um estado mais primitivo que os Estados Unidos ao lidar com esses dilemas ético-legais, que devem ser analisados na cena contemporânea da cultura local, não na minha cultura. Mas desligar um respirador é sem dúvida muito menos controverso do que desligar um tubo de alimentação".

 

2. Milhares de Jhécks nos EUA

O caso do brasileiro Jhéck Breener de Oliveira, de 4 anos, não é uma
raridade. Atualmente, há entre 4 mil e 10 mil crianças americanas em
Estado Vegetativo Permanente, segundo o neurologista Ronald Cranford,
da Universidade de Minnesota. Muitas vezes, como no caso de Jhéck, a
doença degenerativa avança de modo tão veloz que a criança entra
direto no estado vegetativo, sem antes entram em coma, o que é normal
em muitos casos, entre adultos.
A pessoa vítima de algum trauma ou ataque cardíaco - caso de Terri
Schiavo, que sofria de bulimia e infartou por falta de potássio,
perdido ao vomitar - normalmente entra primeiro em coma. Durante o
coma agudo, o paciente fica inconsciente e mantém os olhos fechados. É
possível despertar, mesmo depois de anos.
No estado vegetativo, os olhos ficam abertos, mas vidrados, e a pessoa
não interage. "É difícil muitas vezes para a família entender que,
embora o parente tenha aberto os olhos, a situação pode estar pior do
que antes", explica Cranford.
Após três meses e estado vegetativo, em geral, e até um ano, no caso
de um trauma na cabeça, é quase impossível reverter o quadro, diz.
No caso de Terri Schiavo, Cranford enfrentou um poderoso argumento,
usado pelos pais dela e difundido pela mídia: a imagem. "Eles usaram
filmagens e editaram com habilidade, de modo aparecer que ela
interagia; isso era uma ilusão. Os olhos dela não paravam em um lugar,
nem ela respondia a estímulos. Mas se você fala 50 vezes para ela
olhar para o lado esquerdo ou piscar, é provável que ela depois de
algum tempo tenha feito isso duas ou três vezes, mas porque faria do
mesmo jeito. E eles usaram esses poucos momentos na TV para
persuadir".

MORTE POR DESIDRATAÇÃO
O processo de morte pela retirada de alimentação artificial e
hidratação demora de 10 a 14 dias e é indolor para o paciente, mas
muito doloroso para a família, que vê o parente "secar", literalmente,
explica Ronald Cranford. "É muito difícil para a família assistir a
isso".
Esse tipo de morte assistida é comum e considerado "consistente com os
mais altos padrões de prática médica, legal e ético", afirma o médico.
"O paciente não sofre, não sente nada."
Aos poucos, a pele e os olhos secam, a pessoa fica vermelha e perde
peso, porque os líquidos do corpo vão se extinguindo. Nos últimos dois
dias, as extremidades do corpo - mãos e pés ficam gelados. A pessoa
entra em coma e morre.

Perfil de Cranford:
http://64.233.161.104/search?q=cache:AZcqhoczX00J:www.bioethics.umn.edu/faculty/cranford_r.shtml+ronald+cranford+ethics&hl=pt-BR

 

Ronald Cranford

 

O intérprete


Na Organização das Nações Unidas, durante nossa visita, hoje. Assistimos ao briefing do porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, 'a imprensa e depois conversamos com ele no seu escritório.

 

Segunda no parque


Com Raj, Al Chambers (diretor do WPI em NY) e Ju, no Central Park

 

Seminu


Ao computador no Sheraton 4 Points Hotel, que vai ser demolido para a expansão do Target (???).

domingo, setembro 04, 2005

 

Éramos Dez


Todos os fellows, em Ely, ainda com Maureen Chigbo (Última 'a direita, sentada), que voltou para a Nigéria. O escrete do WPI 2005: Daniel Cavero (Peru), Raj Kumar (Nepal), Matthias Bernold (Áustria), eu, Tang Ju (China), Teodora Vassileva, Teddy (Bulgária), Anne Jambora (Filipinas), Daniela Tuchel (Rom�nia), Pilar Conci (Argentina) e Maureen

sábado, setembro 03, 2005

 

Foto extra-oficial


Dia da foto oficial da turma de 2005 do World Press Institute

sexta-feira, setembro 02, 2005

 

Vitória da paz

Caiu número de mortes por armas de fogo no ano passado
Carolina Brígido - O Globo
Globo Online (http://oglobo.globo.com/online/pais/169670516.asp)
Agência Brasil
Pesquisa do Ministério da Saúde revelou que o número de mortes por arma de fogo foi reduzido em 8,2% em 2004, ano que marcou a campanha do desarmamento do governo federal. É a primeira vez, em 13 anos, que o índice cai. Enquanto em 2003 foram registradas 39.325 mortes por arma de fogo, em 2004 foram 36.091.
A redução foi verificada em 18 estados. Em números absolutos, o estado em que foi registrada a maior redução foi São Paulo, com 1.960 mortes a menos. O segundo lugar ficou com o Rio de Janeiro, que registrou 672 mortes a menos. Já as maiores variações percentuais foram registradas em Mato Grosso (-20,6%), São Paulo (-19,4%), Sergipe (-17,1%), Pernambuco (-14,5%) e Paraíba (-14,4%).
As mortes por arma de fogo vêm atingindo, de 1992 a 2004, especialmente homens jovens (entre 10 e 29 anos) e matando mais do que doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer, Aids e acidentes de trânsito.
A campanha do desarmamento já recolheu 443 mil armas de fogo desde 15 de julho do ano passado, cinco vezes e meia mais do que a meta inicial, que era de 80 mil armas.

quinta-feira, setembro 01, 2005

 

Minnesota State Fair


Having fun na quermesse

 

FBI, de Al Capone a Al Quaeda: Mudança de Prioridades

Se os tempos de caçada a mafiosos como Al Capone, narcotraficantes e criminosos de colarinho-branco não acabaram para o FBI (Federal Bureau of Intelligence), foram para o fim da lista de atividades da polícia federal americana.
Os desafios atuais passam longe da atuação histórica do órgão que rendeu fama a Eliott Ness e Mark Felt ("Garganta Profunda, que ajudou a derrubar o presidente Richard Nixon, em 1974, e só se revelou este ano). As prioridades máximas hoje são contra-terrorismo e contra-inteligência - neutralizar possíveis ameaças de outros países. "Estamos determinados a não deixar que outro 11 de setembro aconteça
novamente. Vamos evitar outro ataque terrorista. E teremos sucesso, como temos tido. Ponto final", disse o chefe do FBI em Minneapolis, Dakota do Norte e do Sul, agente especial Michael Tabman. Ele não disse, por razões de confidencialidade, se algum ataque já foi evitado por conta do trabalho de inteligência.
O FBI e todo o sistema de defesa americano passaram por grandes mudanças após o atentado do World Trade Center, em 2001. "Mudou o FBI, mudou a América". Além da transferência de pessoal para o combate ao terrorismo e da contratação de centenas de tradutores, uma das principais medidas foi o fim das barreiras de comunicação etre os diversos órgãos de polícia e inteligência no País. "Esse muro está eliminado. Buscamos inteligência e compartilhamos informações com a polícia e outras agências nacionais de inteligência (são 15). Falo todos os dias com os chefes de polícia, trabalhamos em forças-tarefas, juntando especialistas, e essas parcerias nos fazem mais fortes. E acho que isso não volta mais atrás", afirmou Tabman, segundo quem antes de 2001 até mesmo dentro do FBI divisões não intercambiavam informações por medo de vazamento.
PARA FBI, CADA DIA SEM ATAQUE É UMA BATALHA VENCIDA
Para o federal, o 11 de setembro serviu para mostrar ao Bureau suas
fraquezas e mudá-lo para melhor. Ele se vê em uma batalha diária, que
vem sido vencida.
"É uma espécie de guerra. Defino vitória nesta guerra como cada dia em
que não temos um evento terrorista e em que a população se sente
segura. Não tivemos nenhum ataque desde 11 de setembro. Se desistirmos
do nosso modo de vida, teremos perdido, porque é o que querem. Não
deixaremos que isso aconteça".
Tabman não vê tanta diferença na essência do trabalho de antes.
"Terroristas são criminosos, 'as vezes ajudados por governos, mas são
criminosos." Sobre um possível erro do FBI em 11 de setembro, fez um
mea-culpa. "Não dizemos que somos perfeitos. Talvez tenhamos errado,
mas fazemos o melhor possível".
Perguntado sobre quais as chances de um novo ataque em solo americano,
o policial mostrou-se relativamente tranquilo.
"NÃO HÁ NENHUMA INDICAÇÃO DE ATAQUE"
"Estamos muito confiantes, mas nunca garantimos nada. Precisamos estar
certos 100% das vezes. Eles só precisam estar certos uma vez. Mas
atualmente não há nenhuma indicação de ataque. Tomamos medidas
extraordinárias, estamos mais alerta e como conhecemos o método, passa
a ser muito mais difícil que algo do gênero se repita." Para o agente
especial Paul McCabe, porta-voz do FBI, "o bureau nunca esteve tão
preparado quanto agora em sua História para responder".
AGENTE DO FBI NÃO CONDENA MORTE DE BRASILEIRO
O chefe do FBI em Minnesota, Michael Tabman, não quis comentar a
política de atirar para matar em casos de suspeita de terrorismo
adotada pelo sistema de segurança anti-terror no Reino Unido, que
resultou na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, em julho, a
tiros. Jean recebeu oito tiros na cabeça, após ser confundido com um
terrorista no metrô de Londres. "Não comentamos a política de outras
agências". O princípio adotado pelo FBI, afirmou, é de atirar apenas
"no caso de ameaça iminente 'a vida humana".
Pode-se tomar a decisão errada, e ainda assim, estar certo
Policial por três anos antes de entrar para o FBI, Tabman ponderou as
circunstâncias em que agentes atuam. "O policial enfrenta situações de
tensão e medo, e é difícil entender sem que se passe por elas. Se você
pára um carro, e a pessoa puxa um objeto metálico, é difícil saber se
não é uma arma. Pode-se tomar a decisão errada e ainda assim estar
certo. Embora algo terrível possa acontecer", afirmou.
(Matéria publicada no DIA em 11 de setembro, 4o aniversário do ataque terrorista 'as Torres Gêmeas)

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